Título: PIB baixo não esfria mercado de trabalho
Autor: Paula, Nice de
Fonte: O Globo, 05/03/2013, Economia, p. 24

Analistas esperam desemprego ainda menor este ano, mas alertam para pressão de salários sobre preços

Depois de um 2012 de bons resultados para o emprego e a renda, o mercado de trabalho deve voltar a fazer a alegria do brasileiro este ano. Apesar das ameaças de inflação, juros e crescimento ainda modesto, analistas preveem que a taxa média de desemprego de 2013 será ainda menor do que os 5,5% do ano passado, que já foi a mais baixa da série histórica do IBGE, iniciada em 2002.

- Este ano a indústria tende a crescer um pouco e evitar demissões. Além disso, o setor de serviços e a construção civil vão continuar se expandindo e o mercado de trabalho tem condições de manter sua força. A taxa de desemprego deve ficar um pouco menor do que no ano passado, em 5,2% na média anual - afirma Rafael Bacciotti, da consultoria Tendências.

No ano passado, o mercado de trabalho surpreendeu os especialistas por apresentar resultados tão bons, diante de um crescimento de apenas 0,9% da Produto Interno Bruto (PIB). Para a maioria deles, fenômeno foi explicado pelo setor de serviços, que emprega muita mão de obra e teve crescimento bem acima da média do país. Mas eles apontaram outras razões, como o aumento do salário mínimo, impacto de programas sociais e a resistência dos empresários em demitir, na expectativa de que a economia iria se recuperar depois.

- O PIB per capita cresceu zero e a renda per capita do trabalho cresceu 3%, uma diferença bem grande, um descompasso. O "pibinho" não chegou ao bolso do trabalhador - diz Marcelo Neri, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Neri vê várias possibilidades para explicar o descolamento, e destaca, por exemplo, um aumento de 8,5% no rendimento dos analfabetos durante o ano de 2012.

- Se o PIB é um bom retrato do Brasil, essas coisas do mercado do trabalho são um bom retrato do brasileiro. Então, chego à conclusão que os brasileiros vão melhor do que o Brasil.

Dieese vê pouca criação de vagas este ano

Para o economista José Márcio Camargo, da Opus Investimentos, o desemprego brasileiro já está com taxas inferiores ao que se pode chamar de pleno emprego e deve cair um pouco mais ao longo este ano, para algo em torno de 5,25%. O lado ruim, diz ele, é o risco de os salários pressionarem a inflação.

- Está começando a haver uma corrida entre salários e preços. Com o mercado aquecido, os trabalhadores buscam reajustes maiores e os empresários repassam para produção. No fim, quem sai perdendo com a inflação são os trabalhadores - avalia.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, diz que o consumo segue crescendo e a taxa de desemprego deve continuar baixa este ano, podendo cair um pouco em relação à média do ano passado, mas também pondera:

- Estamos chegando num limite perigoso. Essa taxa é condizente com um cenário de inflação em aceleração.

O diretor-técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz Lúcio, espera um recuo na taxa de desemprego, mas nada tão significativo, diante da previsão de um crescimento maior da economia, de 2% a 3%. Ou seja, é possível que este ano, o PIB do país tenha um crescimento maior e o recuo do desemprego seja mais modesto. A hipótese do Dieese é que em 2012 os empresários evitaram demitir, porque acreditaram na recuperação da economia a curto prazo.

- Se isso tudo se confirmar, as empresas têm capacidade ociosa e podem aumentar a produção sem fazer contratações pesadas neste momento. A taxa nacional da nossa pequisa de desemprego, que é diferente da do IBGE e ficou em10,5% ano passado, deve baixar 10,2% ou 10% neste ano. Nada tão robusto, como por exemplo, quando a gente compara com a queda registrada no desemprego desde 2004, quando a taxa de 23%.