Título: Mesmo meu partido sendo conservador, ninguém será tolhido
Autor: Éboli, Evandro; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 06/03/2013, País, p. 3

O deputado pastor Marco Feliciano (PSC-SP) brigou muito para ser o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara e até fez uma campanha na internet, onde obteve assinaturas eletrônicas de apoio de cerca de 60 mil pessoas, mas não conseguiu consenso na bancada de 17 deputados do seu partido. Depois de anunciado pelo líder da bancada, André Moura (SE), o pastor deu entrevista coletiva e afirmou que vai surpreender os colegas. Sem negar o que já escreveu sobre negros e homossexuais, o deputado repetiu que é contra a união civil entre pessoas do mesmo sexo e citou o pastor protestante e ativista político americano Martin Luther King como um exemplo igual ao seu.

- Disseram ser da Idade da Pedra ou dos tempos de caça às bruxas a escolha de um pastor para presidir a Comissão de Direitos Humanos. Lembro que o maior defensor dos direitos humanos de todos os tempos foi um pastor: Martin Luther King. Não me comparo a ele, mas era também um cristão - disse Marco Feliciano.

O deputado disse que não é e nunca foi racista nem homofóbico, mas não negou as frases sobre negros em seu Twitter na internet.

- Não neguei o que escrevi e não nego agora. Foi só um post... A maioria das informações sobre mim não é real.

Além de críticas ao homossexualismo, em 2011, Feliciano produziu mais uma polêmica ao escrever no Twitter que "os africanos descendem de ancestral amaldiçoado por Noé" e que essa maldição é que explica o "paganismo, o ocultismo, misérias e doenças como ebola" na África.

Eleito em 2010 para seu primeiro mandato de deputado federal, com 210 mil votos, o presidente da igreja Ministério Avivamento já disse que o amor entre pessoas do mesmo sexo "leva ao ódio, ao crime e à rejeição".

Feliciano voltou a afirmar que a Comissão de Direitos Humanos é monotemática e que dá espaço excessivo a apenas um movimento. Ele evitou citar, mas se referia aos temas relacionados a gays, lésbicas, transexuais e outros setores desse movimento, que tem forte atuação nesta comissão:

- Mesmo meu partido sendo conservador e de direita, ninguém será tolhido na comissão.

O pastor Feliciano disse que vai provar, como presidente da Comissão de Direitos Humanos, que seu partido fará um trabalho equilibrado:

- Vou provar que o PSC, um partido conservador de direita, fará seu trabalho com equilíbrio e equidade. As minorias terão seu espaço na comissão, assim como pautaremos outros diversos temas que estão esquecidos há tempo nesta Casa, como a questão indígena, por exemplo.

Ele voltou a afirmar ser contra a união civil do mesmo sexo:

- Casamento civil é entre um homem e uma mulher. E ponto final. É o que diz nossa Constituição. Fora disso, nada existe. Defendo o plebiscito (sobre o assunto) e vou ver em que pé está meu projeto, que estava parado na comissão.

Ele afirmou também que a sociedade conhecerá, "de fato", quem é Marco Feliciano:

- Vou dignificar a Nação. Sou muito querido dentro do Parlamento. Tive 210 mil votos.

Semana passada, o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) disse que não mais integraria a comissão se confirmada a indicação de Feliciano, que ontem reagiu:

- Gostaria de tê-lo na comissão. Mas se ele fugir da raia vai ficar feio para ele.

O deputado se formou em teologia e é mestre em teologia e doutor em divindade. Nesses dois anos de mandato na Câmara, integrou as comissões de Seguridade Social e Família; Educação e Cultura; Direitos Humanos e Minorias como suplente; e Constituição e Justiça e Cidadania como titular. Figura como autor de 73 proposições e relator de 53 matérias.