Título: Sob o risco da intolerância
Autor: Éboli, Evandro; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 06/03/2013, País, p. 3

O Partido Social Cristão (PSC) confirmou ontem a indicação do deputado e pastor Marco Feliciano (SP) para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara. O nome de Feliciano gera controvérsia por suas posições preconceituosas em relação a negros e homossexuais, entre outros temas. Parlamentares ligados aos direitos humanos, que irão compor a comissão, tentarão impedir sua eleição, que deve ocorrer hoje, e já anunciam duros discursos contra o parlamentar.

A reunião do PSC que definiu a indicação de Feliciano durou cerca de três horas. Não havia consenso entre os 17 deputados da legenda, mas prevaleceu a disposição da maioria de reagir às críticas da imprensa, de parlamentares e dos movimentos sociais. Hoje, a Comissão se reúne para eleger seu novo presidente.

- Caso se confirme (a eleição de Feliciano), será um despropósito, um retrocesso, que vai contra a tradição da Comissão dos Direitos Humanos. É uma coisa orquestrada, uma reação coletiva dos fundamentalistas. Vamos às últimas consequências, usar todos os recursos para impedir essa barbaridade - disse Luiza Erundina (PSB-SP).

O PSC indicou a primeira-vice da comissão, a deputada Antônia Lúcia (PSC-AC). Ela resumiu o que foi a reunião que optou por Feliciano:

- É a chance que ele tem de fugir desse rótulo de homofóbico e racista. Se coube ao PSC a comissão, a escolha é do partido, de mais ninguém.

Feliciano coleciona polêmicas e comprou brigas com vários movimentos sociais. Já disse que a Aids é o câncer gay, que os negros são amaldiçoados e declarou esta semana que o "reto não foi feito para ser penetrado". O líder do PSC, André Moura (SE), saiu em defesa de Feliciano:

- Estamos convictos. Sua gestão vai ser democrática e abraçar todas as causas - disse Moura.

Os três deputados do PT na comissão anunciaram que vão tentar impedir a eleição de Feliciano. Parlamentares do partido ligados à área passaram o dia em busca de uma solução:

- Após 18 anos da criação da comissão, foi sua mais dura derrota. Não vamos votar nele e dizer as razões. Não abro mão de estar em todas as reuniões (caso Feliciano seja eleito presidente), para ser contra, para mostrar descontentamento. Não aceitamos como presidente alguém que afronta princípios básicos dos direitos humanos - disse o deputado Nilmário Miranda (PT-MG).

O líder do PSOL, Ivan Valente (SP), disse que Jean Wyllys (PSOL-RJ) será o indicado da bancada, mas não garantiu que ele ficará:

- O deputado Jean Wyllys irá mostrar nossa posição. Se vai continuar depois, é outra história.

- Essa indicação vai inviabilizar a comissão. Será a comissão dos valores religiosos, do fundamentalismo e da higienização da raça. Foi insensatez do PSC - emendou Chico Alencar (PSOL-RJ)

Evangélico como Feliciano, o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), elogiou a escolha:

- É um deputado no exercício do mandato. O fato de ser pastor não impede que seja presidente. É sereno, vai exercer corretamente a presidência.

Outros nomes polêmicos vão presidir comissões. Para a Finanças e Tributação, o nome cotado é o do deputado João Magalhães (PMDB-MG), que responde a três inquéritos no Supremo Tribunal Federal, por peculato, tráfico de influência e crime contra o sistema financeiro. Na época do escândalo da máfia das ambulâncias, foi citado como beneficiário de recursos desviados de emendas de parlamentares. Em 2012, o Supremo arquivou, por falta de provas, este inquérito. Em 2008, Magalhães voltou a ser acusado de envolvimento em esquema de fraudes em prefeituras mineiras, na Operação João de Barro.

- Não fui condenado, fui eleito para trabalhar e até que se prove o contrário, sou inocente e vou provar isso. Crime contra sistema financeiro? Isso é para banqueiro, não sou. Eu quero é trabalhar - disse Magalhães.

Outro indicado do PMDB é Gabriel Chalita (SP) para a Comissão de Educação. O deputado Romário (PSB-RJ) irá presidir a Comissão de Turismo e Desporto. O PT escolheu Décio Lima (SC) para a Comissão de Constituição e Justiça, a mais importante da Casa, por onde passam todos os projetos. Pelo menos três deputados do Rio estão cotados para assumir presidências de comissões: Jandira Feghali (PCdoB), a de Cultura, Rodrigo Maia (DEM) e Otávio Leite (PSDB).

No Senado, a indicação de Blairo Maggi (PR-MT) para presidir da Comissão de Meio Ambiente e Defesa do Consumidor encontrou resistência de ambientalistas. Blairo é ex-governador do Mato Grosso e produtor rural.