Título: Dilma cancela viagem à Argentina para ir a velório
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Fonte: O Globo, 06/03/2013, Especial, p. 2

Entre as primeiras lideranças latino-americanas a lamentar a morte de Hugo Chávez, esteve a presidente Dilma Rousseff. Ela cancelou uma viagem à Argentina para comparecer ao velório do presidente venezuelano. Durante o 11º Congresso Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, a presidente lembrou que nem sempre concordou com o equivalente venezuelano - mas pediu um minuto de silêncio em homenagem à memória dele.

- Morreu um grande latino-americano, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez Frias. Esta morte deve encher de tristeza todos os latino-americanos e centro-americanos. Chávez foi sem dúvida uma liderança comprometida com seu pais e com o desenvolvimento dos povos da América Latina - afirmou a presidente.

O ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, também lamentou, lembrando a relação estreita entre os dois países.

"A Venezuela, sob a liderança do presidente Chávez, viveu processo sem precedente histórico de aproximação com o Brasil. Sob sua Presidência, a Venezuela tornou-se parceiro estratégico do Brasil e sócio pleno do Mercosul", enfatizou o ministro, em nota.

LÍDERES LATINOS CONSTERNADOS

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou.

"Foi com muita tristeza que recebi a notícia. Tenho orgulho de ter convivido e trabalhado com ele pela integração da América Latina e por um mundo mais justo", afirmou.

Apesar de ser esperada de certa forma, a morte de Chávez despertou reações de solidariedade, ainda que contidas, até daqueles com quem o venezuelano mais se estranhava - como o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Em nota, a Casa Branca expressou apoio ao povo venezuelano horas depois de o governo Chávez expulsar um diplomata americano de Caracas. E fez ressalvas.

"Neste momento em que a Venezuela começa um novo capítulo de sua História, os Estados Unidos reafirmam seu interesse em desenvolver uma relação construtiva com o governo venezuelano", dizia o texto.

O governo britânico também enviou condolências, mas evitou polêmicas.

- Fiquei triste ao saber da morte do presidente Hugo Chávez - afirmou o chanceler William Hague. - Como presidente da Venezuela por 14 anos, ele deixou uma vasta impressão do país, mais profunda. Gostaria de oferecer meus sentimentos ao povo venezuelano nesta hora.

A chanceler da Colômbia, María Ángela Holguín, foi outra que se disse "em profunda tristeza". Mas foi entre os seguidores da "revolução bolivariana" de Chávez, que a notícia causou mais comoção. Depois de decretar luto nacional em seu país, o presidente da Bolívia, Evo Morales, foi à TV pedir, com a voz embargada, "unidade do povo latino-americano". O Ministério das Relações Exteriores do Equador expressou "profundo pesar" pelo falecimento de quem o governo vê como "o líder de um processo histórico na América".

SEM ESCAPAR DAS CRÍTICAS

Em Buenos Aires, a presidente argentina, Cristina Kirchner, cancelou toda a agenda ao saber da morte daquele que era um amigo bastante próximo. Fontes da Presidência afirmaram ao "Clarín" que ela viajaria ainda ontem para Caracas. O vice-presidente Amado Boudou recorreu ao Twitter.

"Grande dor em toda a América. Se foi um dos melhores. Até sempre, Comandante: Junto com Néstor, nos guiarão à vitória dos povos!", escreveu, referindo-se ao falecido ex-presidente Néstor Kirchner.

O microblog também foi o meio eleito pelo presidente mexicano, Enrique Pieña Neto, para oferecer condolências. Em Montevidéu, coube a chanceler uruguaio a tarefa de se pronunciar sobre a "enorme dimensão do estadista Hugo Chávez". O presidente do Peru, Ollanta Humala, declarou sentir "uma profunda dor":

- Quero expressar nosso pesar ao povo irmão da Venezuela e dar à família do amigo Hugo Chávez um forte abraço.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, mandou condolências. E as manifestações de pesar não paravam de chegar - sem impedir protestos como o da Human Rights Watch. A ONG lembrou que o mandato de Chávez foi marcado por "um descaso aberto pelas garantias básicas dos direitos humanos".