Título: Cidade baiana é usada para ocultar cadáveres
Autor: Carvalho, Jailton de; Rios, Odilon
Fonte: O Globo, 07/03/2013, País, p. 3

No dia da divulgação do Mapa da Violência 2013, cerca de trinta pessoas, com panelas e cartazes, protestavam em frente ao Fórum de Simões Filho, a 20 quilômetros de Salvador. Ali prestava depoimento o policial militar Leandro Almeida da Silva, que matou o taxista Pedro Augusto de Araújo Santos, 23, com cinco tiros na saída de uma festa.

O caso é apenas um dos 141,5 homicídios registrados em 2010 na cidade que, atualmente, tem a mais alta taxa de homicídios entre 2008 e 2010. Três municípios baianos estão entre os dez com maiores taxas de homicídios no país.

Para o sociólogo Luiz Lourenço, professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Simões Filho apresenta características típicas de uma cidade usada para desova de cadáveres, com áreas rurais e ermas.

- Simões Filho não é necessariamente o município mais violento do Brasil. Os números mostram geralmente onde as vítimas são encontradas. Se mostrassem de onde elas vêm, os dados diriam muito mais sobre a realidade da violência - avalia Lourenço.

O pesquisador aponta ainda que no final dos anos 2000, a violência aumentou nas cidades da Região Metropolitana de Salvador, com o aperto do policiamento na capital.

- A capital começou a ser mais monitorada e as regiões do entorno começaram a apresentar uma elevação do número de homicídios - analisa o pesquisador.

Lourenço aponta que houve uma desaceleração dos homicídios nos estados do Sudeste, enquanto uma tendência contrária ocorre na Bahia e outros estados do Nordeste. Ele disse que um dos fatores - não o único - para isso é o fato de a Bahia não conviver com uma única facção dominante no tráfico, como ocorre na cidade de São Paulo:

- Aqui há muitos grupos rivais, e esta disputa é violenta e causa muitas mortes.

O secretário de Segurança Pública da Bahia, Maurício Teles Barbosa, disse que só iria comentar o assunto após a divulgação oficial dos números.