Título: Agora é na Justiça
Autor: Krakovics, Fernanda; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 07/03/2013, Economia, p. 21

As bancadas do Rio de Janeiro e do Espirito Santo não conseguiram evitar a realização da sessão do Congresso para a votação dos vetos da presidente Dilma Rousseff à lei que redistribui os royalties do petróleo, provocando perdas bilionárias aos dois estados. Isolados e já certos de uma derrota política, deputados e senadores dos dois estados deixaram a sessão por volta das 21h20 de ontem, em protesto pela condução dos trabalhos pelo presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL). A sessão, marcada por tumulto e gritos, estava em andamento até o fechamento desta edição e o resultado oficial da votação, manual e secreta, deve ser conhecido hoje, mas só no fim do dia. O próximo passo dos representantes dos dois estados é entrar com ações no Supremo Tribunal Federal questionando a constitucionalidade da lei.

- Essa será uma noite triste para o Congresso - disse o deputado Alessandro Molon (PT-RJ) da tribuna do Congresso, antes de deixar a sessão.

Os parlamentares de Rio e Espírito Santo saíram gritando "Fora Renan!", em referência às denúncias de corrupção contra o presidente do Senado. A senha foi dada pelo senador Lindbergh Farias (PT-RJ) que, ao subir à tribuna, questionou os cinco minutos concedidos para discurso. Ele queria 20 minutos.

- O que o senhor (Renan) quer? Nos colocar para fora do plenário? Se continuar dessa forma, vamos nos retirar - disse Lindbergh.

Parlamentares de estados não produtores debochavam, gritando "Fica, fica!".

- O Renan passou por cima de tudo, está manipulando a sessão. A bancada do Rio está discutindo se retirar do Plenário e não votar. Será uma vitória de pirro (dos estados produtores) - disse Molon.

- Isso é uma vergonha! Não vamos participar desta sessão - acrescentou Hugo Leal (PSC-RJ), ao deixar o plenário.

Alguns permaneceram, como o senador Linbergh Farias (PT-RJ), para discursar em defesa da manutenção dos vetos de Dilma, que preservam os contratos vigentes.

- A derrubada dos vetos vai gerar insegurança jurídica. A aprovação do projeto do senador Vital do Rêgo significa a insolvência do Estado do Rio e do Espírito Santo - alertou o senador Francisco Dornelles (PP-RJ).

Renan abriu a sessão do Congresso às 20h05 e deixou claro que os 142 vetos seriam votados, por meio de uma única cédula de papel, nem que a sessão fosse noite adentro.

- Essa matéria (dos royalties) está na pauta por decisão do presidente do Congresso e vamos continuar a sessão! - disse Renan. - Se houver tumulto, vou suspender a sessão.

Os parlamentares começaram a apresentar várias questões de ordem, na tentativa de evitar a votação. Mas Renan negou todos os pedidos e abriu o debate.

Os momentos inciais da sessão foram marcados por gritos e bate-boca. A primeira questão de ordem foi levantada por Lindbergh, que questionou o motivo pelo qual esse veto foi escolhido entre outros 3.059 que estão na pauta.

- A pauta é competência do presidente do Congresso. O Supremo Tribunal Federal decidiu que não há ordem cronológica para a apreciação dos vetos - respondeu Renan.

Diante de parlamentares do Rio e do Espírito Santo, que gritavam "rasgou o regimento!", "ditador" e "arbitrário", Renan abriu a sessão usando a autoridade política de presidente do Senado. Ele teve um bate-boca com o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ), que subiu à Mesa Diretora e se debruçou sobre o presidente do Congresso.

- Vai lá pra baixo senão vou suspender a sessão - disse Renan, irritado, para Garotinho.

Já parlamentares dos estados não produtores exibiam plaquinhas com os dizeres: "Não ao veto. Royalties para todos. Essa luta é de todos nós". O governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), favorável à derrubada do veto, acompanhava a sessão no plenário.

- Os Estados são todos iguais, e a União somos todos nós - disse o deputado Marcelo Castro (PMDB-PI), que liderou o movimento pela derrubada dos vetos.