Título: BC emite sinais de vida
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Fonte: O Globo, 08/03/2013, Opinião, p. 22

As apostas sobre a reunião do Copom desta semana eram, em sua maioria, na manutenção da taxa básica de juros (Selic) de 7,25%, fixada em outubro do ano passado e preservada desde então. Mesmo que a inflação anualizada, como previsto, se mantenha em elevação. A aposta estava correta.

Pelo último IPCA, a inflação em 12 meses bateu nos 6,15%, bem distantes da meta de 4,5%, e com previsões de que deverá até mesmo romper o limite superior da meta, de 6,5%. A novidade, para alívio de quem se preocupa com a estabilização da economia, é que o BC, afinal, mudou o discurso. Uma alteração sutil, mas importante.

A Selic continuou imóvel, porém o BC, na nota emitida após o encontro do Conselho de Política Monetária, desta vez deixou de sinalizar que tudo continuaria na mesma por um tempo "suficientemente prolongado". É como se a autoridade monetária definisse um viés de alta para o próximo Copom, em meados de abril. As discussões até lá serão em torno da elevação, se 0,25 ou 0,50 ponto percentual.

Era mesmo essencial que o BC fosse contra a perigosa ideia de que a instituição zeladora do poder aquisitivo da moeda estaria impedida de agir pelo Planalto, para não tornar supostamente mais lento o processo de recuperação do crescimento.

Ora, repita-se sempre: a inflação é inimiga do desenvolvimento, em todos os sentidos. A começar pela enorme capacidade de dilapidar a renda dos mais pobres, prioritários para os governos. Pois quem aceita a tese falaciosa de "mais inflação, para mais crescimento" é aliado da pobreza.

O aviso implícito do BC de que não continuará inerte se houver risco de os preços escaparem de controle serve para ancorar expectativas, impedir que desgarrem e levem formadores de preços com posição forte em mercados a se guiar pela ideia, por exemplo, de que o governo Dilma deixou de perseguir a meta de 4,5%, mas algo na faixa dos 6%, uma das mais elevadas inflações do planeta. Longe dos casos de crise aguda, terminal - Argentina e Venezuela, acima dos 25% -, porém, mesmo assim, preocupante. E com os mecanismos de indexação da economia brasileira ativos, o risco de os preços subirem de patamar é enorme.

Há, ainda, um mercado de trabalho em situação de virtual pleno emprego, fator clássico de aceleração da inflação via salários, variável sempre monitorada com atenção pelos bancos centrais no mundo. Há indicações, inclusive, de que este cenário tem contribuído para perda de produtividade do setor industrial.

Se os preços continuam em tendência de alta com a produção em marcha lenta, o que acontecerá na recuperação acelerada da economia? Pode-se escapar do risco da "estagflação" e cair num ciclo de inflação com crescimento. Troca-se o "péssimo" pelo "ruim".

Em relação a dezembro, a indústria cresceu em janeiro 2,5%, a maior elevação desde 2010, segundo o IBGE. A boa notícia dá razão ao novo aceno do BC.