Título: Alvo de protestos, Feliciano convoca ato para apoiá-lo
Autor: Rôxo, Sergio; Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 11/03/2013, País, p. 5

Alvo de manifestações em pelo menos sete cidades no último sábado, por causa da sua eleição para a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) quer unir evangélicos e católicos num ato de desagravo a ele. Pelas rede sociais, o parlamentar, pastor e fundador da Tempo de Avivamento, convocou líderes religiosos para discutir, hoje à noite, o futuro das igrejas diante do que chama da "batalha contra a família brasileira".

Feliciano pretende usar o culto que costuma celebrar às segundas-feiras no maior templo de sua igreja, em Ribeirão Preto (interior paulista), para responder às acusações de racismo e homofobia a estelionato que vem recebendo. "Estamos vivenciando a maior de todas batalhas contra a família brasileira, e a igreja está sendo bombardeada pelas mentiras insinuadas por grupo de bandeira LGBT (gays, lésbicas, bissexuais e travestis), que planeja dividir e destruir nossas igrejas e famílias, usando a política e a discriminação como arma", diz o comunicado de convocação, publicado na página do deputado no Facebook, sábado à tarde.

"incomodando o reino das trevas"

"O deputado-pastor Marco Feliciano pede a presença de todas as lideranças evangélicas e católicas de Ribeirão Preto e região para a reunião a fim de discutir o futuro de nossas igrejas diante desse grande embate", prossegue o comunicado. No texto, também é destacado que toda a "imprensa estará presente, precisamos mostrar a nossa união". Ainda nas redes sociais, Feliciano afirmou ontem estar "abatido" pelo que chama de "perseguições". "Cheguei em casa essa madrugada abatido pelas perseguições. Mas, ao receber o carinho da minha esposa e minhas filhas, a minha alma se renovou", escreveu ele na página do microblog.

O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), disse ontem que não está disposto a rever a escolha do pastor, apesar da pressão de setores da sociedade. Ele afirmou que há também quem apoie Feliciano.

- Respeito esses atos, mas, se há manifestação contra, tem também a favor - disse Alves, defendendo o direito de o PSC indicar o presidente da comissão. - É um direito do partido, que fez sua escolha, sua indicação, e temos que respeitar. Ele foi eleito pela maioria dos integrantes da comissão.

Alves afirmou que não tomará iniciativa de convocar reunião para analisar o caso, a não ser que seja provocado pelos líderes dos partidos. Ele disse que é preciso aguardar o início do funcionamento da comissão para julgar o comportamento de Feliciano:

- Vamos ver como será no dia a dia da comissão, se haverá reuniões livres, com acesso do público. Espero que prevaleçam o equilíbrio e a estabilidade.

Ontem à noite, o pastor foi alvo de novo protesto, diante do templo de sua igreja em Franca, onde ele celebrava um culto: 150 pessoas levavam cartazes e gritavam "amo homem, amo mulher, amo quem quiser". A Polícia Militar foi chamada, mas não houve tumultos. No culto, Feliciano se disse "muito feliz com tudo que está acontecendo".

- É sinal que estamos incomodando o reino das trevas - afirmou ele, comparando-se ao líder americano Martin Luther King Jr., assassinado em 1968: - Se quiserem dar um tiro no meu peito, fiquem à vontade.

Na saída da igreja, manifestantes cercaram o carro do deputado, gritando "fora, Feliciano". Protegido pela polícia, o carro saiu sem problemas.

Sábado, após as manifestações, ele ironizou a baixa audiência do ato contra ele realizado em São Paulo, ao postar uma foto no Twitter e escrever "vejam que multidão". Acusado de racismo, ele postou uma foto em que aparece abraçado à mãe, Maria Lúcia Feliciano, e ao padastro, que é negro.