Título: Para analistas, Petrobras ainda exige cautela dos investidores
Autor: Haidar, Daniel
Fonte: O Globo, 11/03/2013, Economia, p. 20

O reajuste do diesel anunciado pela Petrobras na semana passada provocou uma alta de mais de 20% nas ações da empresa em apenas dois dias e fez os papéis voltarem a despertar a atenção dos gestores de carteiras. O aumento de 5% no diesel, o segundo reajuste autorizado para o combustível este ano, foi visto como um sinal de que o governo poderá interferir menos nos negócios da empresa. Mas a aplicação ainda exige cautela: de sete corretoras e bancos consultados pelo GLOBO, apenas duas instituições recomendam o investimento em ações da Petrobras. Os demais, sugerem manutenção: ou seja, quem tem a ação não deve vendê-la; quem não tem não deve comprá-la.

Depois de subirem 20,84% (ações ON, com direito a voto) e 14,43% (ações PN, sem voto) na quarta e na quinta-feira, os papéis da Petrobras voltaram a cair na sexta-feira. Ainda assim, as ações ON terminaram a semana em alta de 13,76%, a R$ 16,70, melhor desempenho semanal desde janeiro de 2009. Já os papéis PN avançaram 8,70% no mesmo período, a R$ 18,37, maior alta em sete dias desde setembro de 2012.

"O REAJUSTE NÃO FOI O IDEAL’

O banco Credit Suisse voltou a recomendar a compra das ações após dois anos e meio. "Podemos estar no começo de uma atitude mais benigna do governo perante a companhia" disse o banco em relatório enviado a clientes.

Oswaldo Telles Filho, analista do Banco Espírito Santo, já recomendava o investimento em Petrobras antes do reajuste. Depois do aumento, passou a ver mais potencial nas ações:

— O reajuste não foi o ideal, mas vai melhorar a operação e garantir que a empresa opere em bons limites financeiros.

A Petrobras já tinha aumentado os preços dos combustí-| veis em 30 de janeiro (alta de ! 6,6% na gasolina e 5,4% no óleo diesel), mas na época as ações sofreram porque a magnitude do reajuste decepcionou o mercado. Agora, ninguém esperava um novo reajuste em tão pouco tempo, ainda mais diante da alta da inflação nas últimas semanas.

AINDA HÁ DEFASAGEM DE PREÇOS

A nova alta do diesel vai injetar cerca de R$ 3 bilhões nos cofres da estatal, segundo estimativas de analistas. Mas Luiz Otávio Broad, analista da corretora Ágora, destaca que, ainda assim, os preços do combustível estão defasados frente aos praticados no mercado internacional e que isso vai provocar uma perda de R$ 20 biihões à estatal neste ano.

Broad está entre os cautelosos com as ações da Petrobras e recomenda a manutenção da aplicações na ação, porque a companhia não deve elevar a produção de petróleo em 2013 e não há nenhum novo reajuste no horizonte. O analista só espera melhora em 2014:

— Com a forte alta das ações nos últimos dias, o potencial de valorização ficou baixo.

Ricardo Corrêa, diretor da corretora Ativa, também sugere a manutenção. Mas reconhece que este pode ser o momento de investir em Petro-bras para quem está disposto a correr risco, porque avalia que os papéis já caíram demais. Mesmo com os preços de combustíveis defasados, Corrêa destaca que a empresa adotou uma meta de redução de custos operacionais e a produção, este ano, pode surpreender.

— O reajuste do diesel foi um pequeno ponto de inflexão. Se fosse uma movimentação isolada, não representaria muito, mas vem junto de um conjunto de sinalizações que mudaram nossa expectativa. Mas para ter mudança na visão do mercado, ainda falta mais — disse.

Mas, diante do histórico recente de ingerência do governo federal, controlador da Pe-trobras, nos negócios da estatal, principalmente segurando os reajustes dos combustíveis, alguns investidores preferem simplesmente não aumentar a aplicação nos papéis e esperar para sair fora. É o caso da gestora gaúcha Quantitas, que administra üm patrimônio de R$ 8,3 bilhões.

— Zerar a defasagem internacional dos preços de combustíveis é algo imprevisível. Por isso, a ação teria que estar muito mais barata do que está hoje para comprar o seu risco — avaliou Mareei Kussaba, analista-chefe da gestora Quantitas.