Título: Nem sempre entre os que aparecem nos jornais será escolhido o futuro Papa
Autor: Berlinck, Deborah; Eichenberg, Fernando
Fonte: O Globo, 11/03/2013, Mundo, p. 27
Damasceno aposta num conclave de poucos dias de duração, não descarta uma surpresa entre os nomes citados como favoritos para Papa, e mantém as chances de eleição de um brasileiro como sucessor de Bento XVI, mas ressalta que não se considera integrante deste grupo.
Em seu sermão, Damasceno definiu o momento atual como um "tempo forte para toda a Igreja", e destacou a importância da escolha de um Papa carismático para governar o Vaticano, não importando a sua nacionalidade.
A partir do primeiro escrutínio já se pode ter uma ideia sobre os cardeais que serão mais votados e poderão suceder ao Papa Bento XVI?
É muito difícil. O primeiro escrutínio é bastante disperso, embora saibamos que alguns cardeais recebam um pouco mais de votos do que outros. Isso começa, de uma certa forma, a definir quem será o futuro Papa, mas não será decisivo. Os cardeais podem sempre, na hora de votar, mudar de candidato. Nem sempre entre os que aparecem nos jornais será escolhido o futuro Papa. Pode até acontecer, mas pode também haver surpresa. As congregações permitiram, claro, um melhor discernimento sobre o possível candidato para suceder o Papa Bento XVI. Tivemos o dia de hoje (ontem), o de amanhã (hoje), e os cardeais vivem este momento de expectativa, mas também de muita reflexão. Por isso algo de novo poderá acontecer.
Esses nomes que já vêm sendo citados podem ganhar peso ao longo da eleição?
Podem. Eles certamente contam com o apoio de um número de cardeais. Não saberia dizer quantos. Nas congregações gerais não foram discutidos nomes de cardeais possíveis de se tornar o futuro Papa. Por isso, é muito difícil dizer se alguém tem realmente a convergência da maioria dos votantes, mas se apareceu na imprensa temos de, evidentemente, admitir a possibilidade. Uma mera possibilidade de um desses candidatos, ou melhor, de um desses cardeais ser eleito. Mas isso não significa segurança, certeza. O Espírito Santo sopra quando quer, como quer, e onde quer. E pode ser que, de uma hora para outra, no conclave, as coisas se manifestem de uma maneira diferente. Há tendências, há pesquisas feitas pelos jornalistas, mas isso nunca é definitivo.
Nesse sentido, crescem as chances dos cardeais brasileiros...
Sem dúvida nenhuma, os cardeais brasileiros, meus irmãos no Colégio Cardinalício, têm também todas as condições de serem eleitos. Então, vamos aguardar. Se acontecer isso, será motivo de muita alegria para a América Latina, mas de um modo muito particular para o Brasil. Sabemos da função do Papa, do peso de sua palavra, não só no interior da Igreja, mas também para a própria sociedade. Embora ela hoje seja marcada, como todos nós sabemos, por uma secularismo muito forte, os meios de comunicação estão demonstrando que a Igreja ainda é assunto. É assunto da imprensa, da TV, do rádio. Cerca de 5 mil jornalistas estão credenciados no Vaticano, ora, isso não é um número desprezível. Sinal de que o mundo está acompanhando esse acontecimento especial aqui, que é a eleição do novo Papa.
Após essa semana de congregações, qual a sua previsão de duração do conclave?
Creio que nesta semana que está iniciando poderemos ter um novo Papa. Essa é a minha previsão. A minha suposição. Porque as congregações foram muito ricas nas intervenções dos cardeais abordando os mais diferentes temas, fazendo as mais diversas sugestões para o futuro Papa, inclusive dando um perfil para ele. Ainda temos um encontro amanhã (hoje) pela manhã, e os cardeais que ainda não falaram terão a oportunidade de fazê-lo. Eu mesmo pedi a palavra para falar amanhã (hoje) para os nossos cardeais.
O senhor falou das chances dos demais cardeais brasileiros, mas não das suas.
Eu me refiro aos quatro (com ele, são cinco), os mais capazes, mais idôneos para assumir uma responsabilidade como essa, se assim os cardeais o desejarem, e se for esse o projeto de Deus para a sua Igreja. Temos de olhar sempre sob a ótica da fé. Não é uma eleição política. Por isso, não é importante a origem do Papa, sua cor. Sua idade pode pesar se isso for uma dificuldade para governar a Igreja, mas não é critério definitivo. Temos de estar abertos ao Espírito Santo para que nos ajude a entender e a ler os sinais dos tempos, o que Deus está querendo falar a sua Igreja.
Nunca houve tanta especulação em torno de um nome brasileiro. Aumentou o assédio da imprensa...
Imagino que eles devem estar passando apuros. Eu, graças a Deus, estou muito tranquilo, a imprensa está me deixando em paz. Não estou sendo cogitado na imprensa, e isso ajuda a ter um conclave mais tranquilo.
Dom Odilo está assustado?
Eu não posso falar por ele, mas imagino que não.