Título: Na primeira reunião, tumulto e palavra cassada em comissão
Autor: Éboli, Evandro; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 14/03/2013, País, p. 6

A primeira sessão da Comissão de Direitos Humanos da Câmara sob o comando de Marco Feliciano (PSC-SP) foi marcada por princípio de briga entre deputados, tumulto e protestos de manifestantes a favor e contra a eleição do pastor. O clima foi acirrado e tenso a maior parte das quase duas horas de sessão. Feliciano atuou com mão forte e, em vários momentos, cortou a palavra de deputados que se opõem à sua presidência. Mesmo no ambiente conturbado e com o debate abafado pelos gritos e palavras de ordem, Feliciano manteve a sessão, aprovou requerimentos e avisou: quem manda na comissão é ele e que não cederá a pressões.

- Essa presidência não cede à pressão. Eu sou o presidente dessa sessão. Se os senhores não pararem, vou ter de esvaziar a sessão. Não façam disso um circo. Eu não cedo à pressão - disse Feliciano, que em outro momento afirmou:

- Acabou a bagunça dessa comissão. Agora tem ordem.

O novo presidente foi acusado por vários deputados de não estar cumprindo o regimento interno. Não aceitou o pedido, feito pela deputada Érika Kokay (PT-DF), para discutir a ata e nem reconheceu seu direito de pedir verificação de quórum. Afirmou que a deputada tinha feito o pedido fora da hora prevista no regimento. Depois, avisou que estava "cassando sua palavra" porque ela estava em obstrução. Kokay e outros deputados do PT deixaram a sessão. Em outro momento, ele não deixou que a deputada Keiko Otta (PSB-SP) continuasse um discurso em que ela o criticava, alegando que era hora de votar.

Bolsonaro sai em defesa de Feliciano

O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) sentou-se ao lado de Feliciano para provocar deputados e manifestantes contrários. Bolsonaro deixou os manifestantes irados quando avisou que "a festa gay" tinha acabado:

- É esse tipo de representante que vocês querem defendendo vocês? É esse tipo de cara que vocês querem representando a igreja de vocês?

Os manifestantes evangélicos aplaudiram, e disseram que sim.

- Enquanto existir essa comissão, os viados vão estar aqui. A gente saiu do armário, nós quebramos o armário e não voltamos mais pra ele - rebateu um manifestante para Bolsonaro.

Mais tarde, logo depois que Feliciano cortou a palavra de Kokay, Bolsonaro aconselhou-a a "fechar a boquinha". Irritado com o desacato, os deputados Nilmário Miranda (PT-MG) e Domingos Dutra (PT-MA) foram tomar satisfação. Houve bate-boca e um princípio de briga.

Autor do projeto que criou a Comissão de Direitos Humanos, Nilmário Miranda foi ignorado por Feliciano. Nilmário levantou a mão, pediu a palavra, mas não era contemplado. Quando Feliciano o atendeu mostrou não conhecer o parlamentar do PT:

- Qual o nome do senhor? - disse Feliciano.

- Sou o fundador dessa comissão - rebateu Nilmário.

- Ah, sim. Li sobre a vida do senhor e me inspiro no seu trabalho aqui - afirmou Feliciano.

Nilmário, então, respondeu:

- O senhor está colhendo o que plantou. Sua eleição pode ter legalidade, mas não tem legitimidade. Me retiro dessa reunião.

Além dos xingamentos, a sessão teve um momento inusitado. Uma calçola salmão apareceu jogada debaixo de uma das bancadas, no final da sala. Ninguém descobriu de onde veio, e uma funcionária da limpeza recolheu.

Até a ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) opinou que a Câmara deveria ouvir a sociedade, em relação à escolha para a presidência da comissão:

- Eu acredito que o Parlamento precisa dar uma solução, precisa ouvir a sociedade. Na Câmara dos Deputados, é muito importante que, numa Comissão de Direitos Humanos e Minorias, as chamadas minorias estejam representadas - disse Rosário.