Título: Deputado ataca conselho contra projeto de drogas
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 15/03/2013, País, p. 6
Relator do projeto que cria um cadastro de usuários de droga e institui a internação involuntária do viciado, o deputado Givaldo Carimbão (PSB-AL) partiu para o ataque e fez duras críticas ao Conselho Federal de Psicologia (CFP), que se opõe à proposta. O deputado diz que a entidade faz terrorismo por ser contra as comunidades terapêuticas que tratam de dependentes, muitas delas ligadas a entidades religiosas.
- O Conselho Federal de Psicologia é um assassino de dependentes de drogas. Se é contra a internação de quem está na rua, na sarjeta, isso é assassinato. São 200, 300, 500 pessoas na miséria, que não têm quem dê a mão. Se deixa morrer, é assassinato. A cracolândia em São Paulo, por exemplo. Tem mil pessoas ali e não se pode ir lá para fazer uma busca ativa (e interná-los). O conselho é contra. Me desculpe, mas é assassinato de pessoas que morrem à míngua - disse Givaldo Carimbão, ao GLOBO.
O deputado teria repetido essa acusação a um grupo de dirigentes do conselho, anteontem, nos corredores da Câmara. Os dirigentes da entidade tinham ido justamente fazer oposição à proposta e se encontraram, por acaso, com Carimbão num restaurante. O grupo estava acompanhado do deputado Glauber Braga (PSB-RJ), que fez a aproximação do colega com os psicólogos. Quando soube que se tratavam de representantes do conselho, Carimbão teria repetido as acusações, que podem lhe custar um processo no Conselho de Ética da Câmara. A entidade decidiu representar contra ele na Corregedoria da Casa.
"Para a surpresa geral, e sem qualquer movimento ou resposta de nossa parte, o deputado passou a atacar o Conselho Federal de Psicologia afirmando sermos: "assassinos, baderneiros e bandidos", diz a representação do conselho.
Carimbão é um parlamentar católico, tem muitas ligações com lideranças religiosas no seu estado, e uma forte atuação junto às comunidades terapêuticas de Alagoas, conhecidas como redes de acolhimento. O deputado diz que elas não têm orientação religiosa, apesar de terem nomes como Fazenda Divina Misericórdia, Gênesis e Nossa Senhora das Graças.
Essas diferenças com o Conselho Federal de Psicologia não são novas. Em 2011, o conselho lançou um relatório de internação para usuários de drogas nessas instituições em todo o país. O documento analisa duas entidades de Alagoas: a Comunidade Nova Jericó e a Divina Misericórdia. Diz o conselho que se tratam de comunidades católicas e que, quando as regras são desobedecidas, reza-se uma Ave Maria. Em caso de nova desobediência, são duas Ave Maria.
Carimbão acusa o conselho federal de ter distorcido o relatório do Conselho Estadual de Psicologia de Alagoas, que teria feito uma avaliação bem diferente e positiva dessas entidades.
- Até processei o conselho federal por isso. Eles mentiram. E chegaram ao ponto de proibir psicólogo de atuar nesses locais que acolhem drogados. Não pode isso, não pode aquilo. Então, que decida o Parlamento, que está legitimado para defender o povo brasileiro - disse Carimbão.
O presidente do CFP, Humberto Verona, criticou as declarações de Carimbão, de que a entidade é assassina de usuários de droga.
- Vejo essa declaração como um desequilíbrio absoluto, destemperada. Não sabe o que fala do ponto de vista racional. Não tenho palavras para classificar isso, essa mania de desqualificar o interlocutor em defesa de uma ideia que defende. Ele atacou publicamente uma entidade que tem história, e adotamos a medida que cabe para corrigir uma conduta inadequada de um parlamentar - disse Humberto Verona.