Título: Ministério pressionou por atualização do cálculo
Autor: Carneiro, Lucianne; Beck, Martha; Paula, Nice de
Fonte: O Globo, 15/03/2013, Economia, p. 27

O governo brasileiro se armou para atacar o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) de 2013 dias antes do lançamento oficial do documento pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Os números foram apresentados previamente ao ministro da Educação, Aloizio Mercadante, que ficou extremamente irritado com o fato de o Pnud ter utilizado dados defasados para calcular o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil, país que é membro do Conselho da instituição e uma das estrelas do relatório de 2013.

Segundo interlocutores, o ministro cobrou explicações do organismo. Teria sido a pressão de Mercadante que levou o Pnud a refazer os cálculos do IDH do Brasil, para mostrar mais claramente os avanços do país. Mas, mesmo com os esforços do Pnud para minimizar a repercussão negativa do IDH, Mercadante e a ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, deram entrevistas para rebater os dados anunciados pelo programa das nações Unidas.

- Temos sentimentos divididos em relação ao relatório. Ele cita o Brasil diversas vezes como um modelo a ser seguido na redução da desigualdade, mas usa dados desatualizados no IDH. Foram dados injustos na área de educação - afirmou a ministra.

Mercadante, por sua vez, elogiou a atualização informal do IDH. Mas o ministro fez uma ressalva:

- Esse exercício só mostra que estamos certos e que os dados precisam ser atualizados.

De acordo com Mercadante, o relatório não levou em consideração duas informações importantes. Uma delas é que a jornada escolar no país subiu de oito para nove anos. Além disso, não foram computados no cálculo 4,6 milhões de crianças de 5 anos que estão matriculadas na pré-escola. O Pnud não contabiliza em seus cálculos os dados sobre pré-escola, criticou Mercadante.

- Os dados utilizados são defasados e insustentáveis - afirmou o ministro.

Mercadante apresentou um cálculo mostrando que se essas duas informações tivessem entrado no cálculo do Pnud, os anos esperados de escolaridade teriam subido de 14,2 anos para 16,7 anos. Segundo o ministro, isso teria feito o Brasil ganhar 20 posições no ranking do IDH.

Mercadante disse ainda que vai procurar o Pnud para discutir o que precisa ser feito para atualizar os dados brasileiros. Ele também insistiu que pretende pedir ao organismo das Nações Unidas uma revisão do relatório à luz de dados mais atualizados.

- Não sei de quem é a responsabilidade dos dados defasados, mas o fato é que eles estão errados. Vamos apurar de quem é a responsabilidade - afirmou o ministro da Educação.