Título: Temperatura eleitoral sobe na Venezuela
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Fonte: O Globo, 17/03/2013, Mundo, p. 44

Sob a memória do presidente Hugo Chávez, morto no dia 5, o clima na Venezuela começou a esquentar rumo às eleições do dia 14 de abril. Ontem, o candidato da coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD), Henrique Capriles, acusou o presidente em exercício e também candidato, Nicolás Maduro, de ter se movimentado para prejudicar sua chegada a um comício na cidade de La Grita, no estado de Táchira, a cerca de 800 Km de Caracas.

Segundo Capriles, Maduro deu ordens para fechar o aeroporto de La Fría, cidade a quase 40 Km de La Grita. O avião com o candidato da oposição teve que pousar em El Vigía, que fica a mais de 100 Km do local do comício de ontem. Em La Grita, partidários de Capriles foram impedidos de chegar ao local do comício da oposição por militantes do chavismo, na cidade para um evento do governo de Táchira.

- Que o desespero não os faça cometer erros, porque o que mostram é medo - afirmou o opositor, derrotado por Chávez nas eleições de outubro passado.

Segundo o governo venezuelano, o aeroporto foi fechado devido às chuvas que caíram por mais de 24 horas na região de La Fría desde a sexta-feira, assim como a nebulosidade no local. A previsão da autoridade de aviação civil do país era de que a nebulosidade "se mantenha por mais 24 horas, segundo comunicados meteorológicos". Sobre o bloqueio à passagem de eleitores de Capriles em La Grita, o governador de Táchira, José Vielma Mora, afirmou que a oposição tentava "sabotar a megajornada planejada há nove dias".

propaganda antecipada

Apesar da justificativa oficial, Capriles não hesitou em dizer, via Twitter, que Maduro é responsável por "qualquer coisa" que acontecer com os opositores. Obedecendo à estratégia de poupar a figura de Chávez - o caixão com seu corpo, desde anteontem em um museu militar de Caracas, continua a atrair milhares de venezuelanos -, o candidato da MUD voltou a atacar Maduro e o governo.

- Este é um governo fracassado e corrupto, cheio de incapazes. Nestes últimos cem dias, estamos vivendo a pior situação de falta de segurança na História do nosso país. Por isso, fazem transmissões em rede nacional, não querem que alguém diga isso - protestou Capriles, em alusão ao período transcorrido desde que Chávez seguiu para Havana, onde fez a quarta e última cirurgia para tentar conter o câncer que o vitimou.

A menção do candidato da oposição às transmissões do governo em rede nacional de TV, as chamadas cadenas , não ocorreu apenas por causa da alta frequência com que o chavismo recorre a isso. Na noite de sexta, uma cadena foi usada para a reprise do último discurso de Chávez em rede nacional, no dia 8 de dezembro, quando anunciou que iria a Cuba para a cirurgia e apontou claramente Maduro como o seu sucessor.

Ontem, Carlos Vecchio, dirigente do partido Vontade Popular (um dos que formam a MUD), foi ao Conselho Nacional Eleitoral venezuelano fazer um protesto formal à reexibição, considerada por ele propaganda eleitoral antecipada - a campanha só ocorre oficialmente entre os dias 2 e 11 de abril.

- As ações de Maduro demonstram sua covardia em enfrentar Capriles. É hora de parar com os abusos - afirmou Vecchio, para quem os trechos em que Chávez pede apoio a Maduro deveriam ter sido excluídos da reprise do pronunciamento do presidente.

No comício em La Grita, Capriles voltou a cobrar de Maduro um confronto direto em um debate público.

- Não se equivoque, Nicolás, não se esconda atrás da imagem de Chávez. Deixe que o presidente descanse em paz.