Título: Em posse, Dilma defende política de coalizão
Autor: Gois, Chico de; Weber, Demétrio; Valente, Gabriela
Fonte: O Globo, 17/03/2013, País, p. 10

Em discurso na posse dos três novos ministros, a presidente Dilma Rousseff defendeu ontem que, para governar, é preciso fazer coalizões políticas. As declarações foram uma resposta a críticas da oposição de que ela privilegiou interesses eleitorais e não a gestão governamental na escolha dos novos auxiliares. Tomaram posse no Palácio do Planalto os ministros da Agricultura, Antônio Andrade (PMDB); do Trabalho e Emprego, Manoel Dias (PDT); e da Secretaria de Aviação Civil, Moreira Franco (PMDB). A primeira parte da minirreforma serviu para acomodar interesses do PMDB e do PDT.

Anteontem, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), pré-candidato à Presidência, criticou a mudança no governo. Ele disse que nas democracias as trocas de ministros costumam ter como objetivo melhorar a eficiência administrativa mas, no caso da presidente Dilma, a prioridade é garantir mais tempo na propaganda eleitoral em 2014.

Sem citar a oposição nem explicar por que reabilitou o grupo afastado na "faxina ética", Dilma disse que é necessário ter parceiros fortes para governar.

- Eu queria dizer para vocês que o exercício do poder é uma fonte de aprendizado (&). A gente aprende sobre o valor que é necessário para que se tenha firmeza nas decisões e para que se tenha clareza das prioridades. Todos nós, quando chegamos no governo federal, aprendemos muito sobre a diversidade, compreender e respeitar a diversidade de um país continental. E, ao mesmo tempo, temos de fortalecer, nessa diversidade, as forças que sustentam um governo de coalizão. Muitas vezes, algumas pessoas acreditam que a coalizão é algo, do ponto de vista político, incorreto - declarou, lembrando que a Itália encontra dificuldades para formar uma coalizão e que, nos Estados Unidos, a disputa entre democratas e republicanos quase causou uma crise financeira ainda mais grave.

A presidente foi enfática ao dizer que, sem coalizão, não é possível governar.

- Eu aprendi que numa coalizão você tem de valorizar as pessoas que contigo estão, esses parceiros da luta, que são companheiros que acompanham a gente numa jornada diuturna e que, portanto, têm de estar com a gente nos bons e nos maus momentos, e nós com eles. Posso afirmar que acho que o Brasil avançou muito nesse caminho da compreensão da coalizão. Não acredito que seja possível este país ser dirigido sem essa visão de compartilhamento e de coalizão.

O novo ministro da Agricultura, Antônio Andrade, afirmou que sua posse consolida a relação entre o PMDB de Minas Gerais e o governo federal. Ele é presidente do partido no estado.

- O ministério vem ajudar a consolidar a posição de Minas, a consolidar a composição de PT e PMDB - disse. - Não tenho dúvida de que isso (a posse de um mineiro do PMDB) ajuda muito não só pela importância da agropecuária, mas pela importância eleitoral de Minas.

Na primeira entrevista, ele cometeu uma gafe. Quando questionado sobre o relacionamento que teria com o Ministério do Meio Ambiente, respondeu:

- O ministro do Meio Ambiente é grande parceiro, grande companheiro, e temos o mesmo objetivo de servir à população.

Mas quem ocupa o cargo é uma mulher, Izabella Teixeira.

O novo ministro da Secretaria de Aviação Civil, Moreira Franco, disse que a nova função permitirá que o PMDB mostre a "qualidade da contribuição" que vem dando ao país "há quase 50 anos". Ele deixou a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), onde fazia a formulação teórica de políticas públicas.

O novo ministro do Trabalho, Manoel Dias, que substituiu Brizola Neto, afirmou que, apesar de assumir o ministério, o PDT não está pacificado.

- Mas vamos trabalhar neste sentido - disse.

Dias é um dos fundadores do PDT e voltou a dizer que o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, que deixou a pasta acusado de irregularidades, teve papel decisivo na sua nomeação:

- Sou ministro do PDT. O partido me colocou. Claro que o partido me colocar teve uma influência decisiva do presidente.

Na solenidade, Dilma agradeceu aos ministros que deixavam os cargos: Wagner Bitencourt (Aviação Civil), Brizola Neto (Trabalho e Emprego) e Mendes Ribeiro (Agricultura). Ao falar para Mendes Ribeiro, Dilma disse que ele precisa cuidar da saúde e parar de andar "para baixo e para cima". O ex-ministro luta contra um câncer, e, ao ouvir as palavras de Dilma, agradeceu e chorou. Ele foi aplaudido de pé pelos presentes à cerimônia.