Título: Especialistas: um temporal com potencial destruidor
Autor: Gianotti, Rolland; Gerbase, Fabíola
Fonte: O Globo, 19/03/2013, Rio, p. 8

A tempestade que caiu sobre Petrópolis no domingo veio carregada com potencial destruidor, segundo especialistas em clima ouvidos pelo GLOBO, pela sua grande intensidade num curto espaço de tempo. Dados do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) mostram que só no Quitandinha, onde fica uma das suas 19 estações pluviométricas no município, o acumulado de chuvas em 24 horas chegou a 453,8 milímetros às 14h15m de ontem. A força da precipitação, contudo, não pode ser ainda atribuída a mudanças climáticas globais, de acordo com os estudiosos, pois chuvas intensas neste período do ano são inerentes ao clima do Rio, e temporais excepcionais fazem parte do histórico do estado.

Por volta das 16h30m de ontem, outras cinco estações de Petrópolis registravam índices acumulados acima dos 300 milímetros. Para se ter uma dimensão do temporal, em todo o mês de março do ano passado, foram registrados 300 milímetros só no Quitandinha. Os dados não esclarecem se as chuvas têm ficado mais fortes com os anos, uma vez que a série histórica do Inea na área é recente: o sistema de alerta contra cheias, criado em 2007 na Baixada Fluminense, foi expandido para a serra após a tragédia de janeiro de 2011.

INPE: chuva capaz de provocar desastres

Já pelos dados do Instituto Nacional de Meteorologia, que tem estações em pontos diferentes das do Inea, foram 147,5 milímetros em 24 horas no Pico do Couto, em Petrópolis. A precipitação foi a quarta maior da cidade, segundo a série histórica do órgão. O maior acúmulo de chuva em 24 horas registrado na cidade imperial teria ocorrido em agosto de 1952, com 168,2 milímetros.

Segundo a meteorologista Marlene Leal, o local onde mais choveu ontem na Região Serrana, pelas estações do instituto, foi o parque de Teresópolis: foram 226,8 milímetros em 24 horas.

Para a pesquisadora Chou Sin Chan, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), uma chuva superior a 400 milímetros em 24 horas pode ser classificada como extrema, capaz de provocar desastres até em cidades sem problemas de planejamento urbano. Ressaltando que não contava com a série histórica para uma análise pormenorizada, Chan disse que cada cidade reage de forma diferente às chuvas e ainda não seria possível associar a tempestade a um eventual aquecimento global, pois seriam necessários dados consolidados num longo tempo.

Para o professor Adacto Otoni, do Departamento de Engenharia Sanitária e de Meio Ambiente da Uerj, chuvas intensas nesta época do ano são características do clima do estado, que tem em sua geografia, espremida entre a montanha e o mar, um catalisador para a formação de tempestades.

- A principal responsável pelas tragédias que assistimos não são as chuvas, mas a degradação das bacias dos rios, que estão assoreados pela terra, lixo e esgoto que descem das montanhas.