Título: Contornos de jogo de xadrez
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 17/10/2009, Política, p. 6

Indefinição do candidato ao Planalto deixa PSDB com dificuldades em distribuir as peças no tabuleiro da disputa de 2010. Entrave complica viabilização dos palanques nos estados e irrita o DEM

Sérgio Guerra já prega um acordo entre os pré-candidatos Serra e Aécio

O PSDB tem problemas em fechar palanques fortes para disputar a Presidência da República. E para o DEM isso é resultado da indefinição de quem será o candidato em 2010: o governador de São Paulo, José Serra, ou de Minas Gerais, Aécio Neves. Os principais entraves estão localizados em estados das regiões Sul e Nordeste, onde o presidente Luiz Inácio Lula da Siva(1) tem os maiores índices de popularidade.

Entre os democratas, só crescem as insatisfações com os tucanos. Alijados do processo de definições de estratégias para a eleição presidencial, querem que o PSDB se resolva. É praticamente consenso que, enquanto o governo tem Lula como impulsionador da campanha da ministra Dilma Rousseff, a oposição patina.

A insatisfação chegou dentro do PSDB. O presidente da legenda, Sérgio Guerra (PE), já admitiu que a candidata governista terá o apoio dos principais partidos e, portanto, mais tempo de televisão durante a propaganda eleitoral gratuita. Ele, agora, está incomodado com o fato de Lula e sua candidata estarem nadando de braçada no período pré-eleitoral e passou a pregar um acordo entre Serra e Aécio ainda este ano para sepultar a indefinição. Um jantar marcado entre ele, o senador Tasso Jereissati e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na próxima terça-feira, em São Paulo, deve apontar uma solução para o impasse.

Sem saber quem será o candidato, os tucanos esbarram em dificuldades de fechar palanques competitivos, o que pode acarretar problemas em locais onde o partido historicamente tem votações significativas nas eleições presidenciais. É o caso de Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. E não ajuda nos estados em que, desde 2002, na primeira eleição de Lula, o partido não tem votação expressiva. Nessa lista entram Rio de Janeiro, Maranhão, Paraíba, Ceará, Pernambuco e Sergipe. Nesses cinco dos nove estados nordestinos, o PSDB quebra a cabeça para forjar alianças significativas capazes de transferir votos em larga escala para Serra ou Aécio.

As turbulências na política gaúcha isolaram os tucanos na polarização entre PMDB e PT. Os peemedebistas estão divididos entre o senador Pedro Simon, presidente da legenda, e o deputado Eliseu Padilha, que comanda os votos do partido. Com a aliança nacional que os peemedebistas pretendem fechar com o PT na próxima quarta-feira, a ministra Dilma Rousseff poderá ter vantagem no estado que a lançou para a política nacional.

É justamente disso que o presidente do PSDB reclama. O impasse engessa as discussões sobre políticas de aliança. No Sul, ainda não é certo se a governadora Yeda Crusius (PSDB) disputará a reeleição ou abdicará do posto para apoiar outro candidato. Os caciques tucanos desejam que ela apoie um nome do PMDB, que deve ser o prefeito de Porto Alegre, José Fogaça.

Cabo de força Essa tensão com o PMDB repete-se em Santa Catarina. PSDB e DEM fecharam acordo com o governador Luiz Henrique Silveira e apontaram três pré-candidatos: o ex-senador Leonel Pavan (PSDB), o senador Raimundo Colombo (DEM), e o ex-vice governador Eduardo Pinho Moreira (PMDB). Como num cabo de força triangular, ninguém abre mão da cabeça de chapa e o acordo pode fazer água.

No Paraná, a situação é mais confortável, mas nem por isso menos complicada. Os tucanos têm como pré-candidatos o prefeito de Curitiba, Beto Richa, e o senador Álvaro Dias. Só que estão também com as miras voltadas para o pré-candidato do PDT, o senador Osmar Dias, que flerta com o apoio de Dilma.

A situação é também complicada no Rio de Janeiro. Com a candidatura à Presidência da República da senadora Marina Silva (PV-AC), fecharam-se as portas para um acordo com os verdes e os tucanos ficaram sem candidato. O secretário-geral do PSDB, Rodrigo de Castro, disse que ainda é cedo para o quadro dos estados estar definido.

1- Manobra O presidente Lula quer diminuir a força do PSDB em São Paulo ao empurrar o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) ¿ que deseja ser candidato ao Palácio do Planalto ¿ para a disputa do governo paulista. Em Minas, ele tenta fechar aliança com o PMDB, mas esbarra nas dificuldades do PT, que quer ter candidato próprio e não aceita apoiar o ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB).

Definição do perfil

Enquanto persiste o xadrez regional do PSDB, o partido volta os debates para a definição do perfil de seu candidato à Presidência da República em 2010. Se o critério for o maior percentual nas pesquisas de intenção de votos, a escolha será pelo governador de São Paulo, José Serra. Mas se a opção for por alguém capaz de agregar outras forças políticas além de DEM e PPS, a balança pesará para o governador de Minas Gerais, Aécio Neves. Esse é um tema que deve ser debatido no encontro entre Sérgio Guerra, Tasso Jereissati e Fernando Henrique Cardoso, na terça.

¿Precisamos saber escolher o que é melhor: quem está bem colocado nas pesquisas ou quem tem capacidade de crescimento e de aglutinar forças. Esse debate está sendo travado dentro do partido de maneira bastante franca¿, disse o secretário-geral do PSDB, Rodrigo de Castro. Ele, no entanto, não vê movimento de acerto entre os dois pré-candidatos até o fim do ano, antecipando a escolha que hoje está marcada para o primeiro semestre de 2010, como quer o governador paulista.

Trunfos Apesar das dificuldades enfrentadas na formação de palanques fortes, os tucanos têm um trunfo, ou melhor, dois. Ser bem superior em São Paulo, onde o PT pasta para voltar a ter papel de protagonista, e ser forte em Minas Gerais ¿ os dois maiores colégios eleitorais do país. Os paulistas têm quase o mesmo número de eleitores de todos os estados da Região Nordeste e Minas supera de longe os eleitores do Norte. ¿Se o Aécio e o Serra estiverem unidos em 2010, eles serão muito fortes, apesar de todos os problemas no Sul e no Nordeste¿, disse um deputado governista que tem trânsito junto ao presidente Lula.

O PSDB aposta no governador mineiro para conter o efeito da popularidade de Lula e a transferência de votos para Dilma no Nordeste. ¿Aécio agrega mais e tem discurso fácil. Tem fala forte regional e isso vai pesar muito no Norte e no Nordeste¿, completa Rodrigo de Castro.