Título: Líderes regionais prestigiam
Autor: Eichenberg, Fernando; Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 20/03/2013, Mundo, p. 31

Na véspera de seu encontro privado com o Papa, a presidente Dilma Rousseff evitou palavras de desacordo com a Igreja Católica, como havia feito anteontem, quando disse que Francisco, além de defender os pobres, deveria respeitar as opções de cada um. Ontem, ela definiu o discurso do Pontífice em sua missa inaugural na Praça São Pedro como "bastante interessante", e elogiou sua "opção preferencial pelos pobres".

- Acho que se espera do representante de uma grande religião, como a católica, esse compromisso com os mais frágeis. Um Papa afirmar que esse é seu objetivo é muito importante para o mundo, não só para o Brasil - disse no saguão do Hotel Excelsior, onde está hospedada.

A presidente terá uma audiência privada com o Papa às 10h40m (6h40m em Brasília) de hoje. Segundo assessores do Planalto, nenhum integrante da comitiva brasileira participará do encontro. Os ministros que estão em Roma com Dilma - Antônio Patriota, das Relações Exteriores; Aloísio Mercadante, da Educação; Gilberto Carvalho, da Secretaria-geral da Presidência e Helena Chagas, da Comunicação Social - entrarão apenas no final, para cumprimentar Francisco.

A presidente disse ter "boa expectativa" para o encontro, que ocorrerá na Casa Santa Marta.

- Vamos ter no Brasil a Jornada Mundial da Juventude (em julho, no Rio), e tenho a ligeira impressão que é o maior evento do qual o Papa vai participar. Acho que esse será o tema central do encontro com ele - contou.

A presidente foi à missa de entronização do Pontífice vestida de preto, como pede o cerimonial do Vaticano. Ela acompanhou o evento com atenção, mas não comungou.

- Foi uma missa muito solene e bonita, em latim. Sou da época da missa em latim, então me lembro de quase tudo. O coro foi muito bonito também - disse.

Na hora dos cumprimentos, já dentro da Basílica de São Pedro, Dilma conversou por 25 segundos com Francisco.

- Eu disse que tinha muito prazer em vê-lo e que vamos nos encontrar amanhã (hoje) - resumiu a presidente

Visita surpresa no hotel

No início da noite, Dilma recebeu uma visita surpresa em seu hotel: a presidente da Argentina, Cristina Kirchner. A caminho do aeroporto, para retornar a Buenos Aires, Cristina ligou para se despedir da colega brasileira, que tomava uma sopa e descansava em seu quarto. E decidiu parar no meio do caminho para um encontro improvisado, que durou uns 15 minutos. Ao final, as duas presidentes desceram até o saguão do hotel. Questionadas sobre o Mercosul, ambas levantaram seus polegares, e Cristina respondeu: "Arriba!" (para cima). Dilma disse que o encontro não teve caráter oficial.

Na missa na Praça São Pedro, Dilma e Cristina estavam na primeira fila. Segundo fontes do Planalto, a presidente argentina teria dito à brasileira que ficou chateada por não ter dado tempo de cumprimentá-la, e por isso foi ao hotel. Sobre o encontro, a presidente argentina exclamou:

- Fantástico, como sempre!

Outros líderes da América Latina viajaram a Roma para a missa do primeiro Papa do continente, como os presidentes do Equador, Rafael Correa, do Chile, Sebastián Piñera, e do México, Enrique Peña Nieto, que levou um solidéu branco de presente para o Papa - e uma mensagem simbólica: com a viagem a Roma, Peña Nieto se transformou no primeiro presidente do Partido Revolucionário Institucional (PRI) a assistir publicamente a uma missa. Até 1992, o México não tinha relações diplomáticas com o Vaticano (foram suspensas durante a Revolução Mexicana) e, mesmo depois, nenhum presidente do PRI havia participado de uma missa pública, seguindo o preceito de um Estado laico. Para analistas, Peña Nieto, que é católico, preferiu não desprezar a força da religião num país com 83% de fiéis a essa crença.

Chamou a atenção a ausência do presidente do Uruguai, José "Pepe" Mujica. Ele foi representado pelo vice, Danilo Astori.

- (No Uruguai) A Igreja está separada do Estado desde o século passado - explicou a primeira-dama Lucia Topolansky:

A também senadora assegurou que ela e seu marido não são "crentes" e, portanto, preferiram mandar Astori, que é católico.

- Acho fantástico que o Papa tome mate e goste de tango - brincou Lucia.