Título: Deputados lançam frente contra Feliciano
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 21/03/2013, País, p. 3

Procurador-geral da República critica permanência de deputado do PSC na comissão; OAB reforça o coro

Uma frente suprapartidária foi criada ontem contra a permanência de Marco Feliciano na Comissão de Direitos Humanos. Dezenas de parlamentares de vários partidos realizaram um ato contra Feliciano, num auditório lotado por representantes de entidades mais diversas. Até o líder do PT, José Guimarães (CE), que teria participado do acordo que acabou levando Feliciano para presidir a comissão, criticou o deputado do PSC.

- A comissão precisa ser reconstituída. Não pode retroceder. A presença do deputado ali é no mínimo muito delicada. Deveria sair - disse José Guimarães.

O líder do PSOL, Ivan Valente (SP), também pediu a saída de Feliciano e criticou duramente o parlamentar.

- Colocaram um deputado lá que ofende e atenta contra os direitos humanos. Que usa o cargo para ganhar dinheiro e projeção política - disse Valente.

Raul Henry (PMDB-PE) afirmou que Feliciano gera um desgaste imenso para a Câmara.

- Foi escolhido para presidir a Câmara um deputado que simboliza a intolerância, a homofobia, o fundamentalismo e o racismo - disse Henry.

A deputada Luiza Erundina (PSB-SP) anunciou que retirou da Comissão de Direitos Humanos o grupo que criou - Comissão de Verdade, Memória e Justiça - e a transferiu para funcionar dentro da Comissão de Constituição e Justiça.

oab: escolha é acinte à população brasileira

Até mesmo um representante do governo - Paulo Abrão, presidente da Comissão de Anistia e Secretário Nacional de Justiça - participou do ato promovido pelos parlamentares.

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, também defendeu a saída do deputado Marco Feliciano da presidência da Comissão de Direitos Humanos. Para o procurador, a trajetória de vida do deputado não recomenda que ele permaneça à frente da comissão. Feliciano já fez declarações que teriam sido consideradas homofóbicas e racistas.

- Acho que é um dado positivo, que o próprio partido perceba que há pessoas mais vocacionadas para este trabalho - afirmou Gurgel.

Para o procurador, a decisão final sobre o assunto é do Congresso Nacional, mas não há dúvida de que Feliciano está no lugar errado.

- Por sua história de vida, por sua trajetória, não está minimamente indicada para presidir uma comissão importantíssima como a de Direitos Humanos - disse Gurgel.

O presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB, Wadih Damous, considerou "um acinte à população brasileira" a permanência de Feliciano à frente da comissão. "Está mais do que demonstrada a (justa) rejeição que sofre por parte de todas as entidades e de todos aqueles que têm um mínimo respeito pelos direitos humanos em nosso país", afirmou Damous em nota.