Título: Teresópolis: lentidão nas remoções
Autor: Rocha, Carla
Fonte: O Globo, 21/03/2013, Rio, p. 11

Promotora afirma que apenas 0,8% das famílias em áreas de alto risco de deslizamento já deixaram suas casas

A promotora de Justiça de Tutela Coletiva de Teresópolis, Anaiza Malhardes Miranda, estima em quatro mil o número de imóveis condenados na cidade desde janeiro de 2011. Nesses dois anos, porém, apenas 35 imóveis foram efetivamente demolidos, ou 0,87% do total, com seus moradores transferidos para locais seguros. A morosidade das ações é alvo de críticas da promotora, que usa a imagem de um "cachorro correndo atrás do próprio rabo" como metáfora para explicar a falta de coordenação dos programas de recuperação e combate a novas tragédias decorrentes de pancadas de chuva.

- A maioria das casas condenadas continua com moradores depois de dois anos. Não tem ninguém morando em casas definitivas. Somente na área do antigo lixão, no bairro Fonte Santa, há 98 casas interditadas, mas ocupadas. O governo do estado desapropriou a Fazenda Ermitage (próxima à Rodovia BR-116), mas ainda tem de mostrar a viabilidade de se construir casas populares no terreno. Falta um parecer do Departamento de Recursos Minerais (DRM) sobre a sondagem do subsolo. Faltam ações coordenadas. A burocracia é como o cachorro que corre atrás do próprio rabo - afirma.

Ela diz ainda que aproximadamente cinco mil pessoas em Teresópolis recebem aluguéis sociais, no valor médio de R$ 500 por mês. A ajuda de custo, segundo o Ministério Público, esconde mais discrepâncias: há famílias nas quais até cinco pessoas recebem o benefício, enquanto outras, necessitadas, sequer estão cadastradas.

- A prefeitura agora está refazendo o cadastramento. Certamente há mais gente recebendo do que deveria - diz Anaiza. - Entrei com dez ações civis públicas pedindo a retirada imediata de pessoas de 3.400 casas. Mas o estado entrou com recurso, e o Tribunal de Justiça (TJ) suspendeu o efeito da decisão, com o argumento de defesa dos cofres públicos.