Título: Rota ainda passa pelo Paraguai
Autor: Luiz, Edson
Fonte: Correio Braziliense, 17/10/2009, Brasil, p. 12

País vizinho tenta endurecer combate ao tráfico de fuzis e metralhadoras, mas o caminho do comércio clandestino é bem maior no Sul

O Paraguai continua sendo o maior fornecedor de armas de fogo para o Brasil, apesar dos acordos bilaterais assinados entre os dois países, no qual as autoridades vizinhas se comprometiam a controlar a comercialização clandestina. Quase todos os artefatos vêm dos Estados Unidos, da Europa e do território paraguaio e seguem também para a Colômbia, onde abastecem a guerrilha e grupos paramilitares. As estimativas são de que existam pelo menos 850 milhões de armas em todo o mundo, sendo que 200 milhões de uso militares, justamente o tipo preferido do crime organizado.

Durante muitos anos o tráfico de armas não foi tratado como um sério problema pelas autoridades paraguaias. Armamento pesado, como o fuzíl AR-15, era comprado para ser utilizado na caça, mas passou a ser um grande negócio para os criminosos. ¿Sempre há uma modificação nos negócios. Quando o valor da droga está alto no Brasil, enfraquece o do tráfico de armas, e vice-versa. Agora, por exemplo, estão apostando na droga¿, conta um delegado da área de inteligência da Polícia Federal.

As autoridades brasileiras estão otimistas com a nova política adotada pelo Paraguai, que impediu a venda de livre de armas de fogo. Lojas em Ciudad del Leste e Pedro Juan Caballero, entre outras, tinham os produtos expostos em suas vitrines e qualquer um podia comprar, sem ser questionado, sendo brasileiro ou paraguaio. Hoje, a situação mudou. O comércio é feito às escondidas, quando há armamentos de grosso calibre envolvidos. ¿Isso não quer dizer que o tráfico ou venda de armas pequenas tenham acabado¿, observa um delegado da Polícia Federal ligado às investigações sobre o tema. Normalmente o destino final era São Paulo, Rio de Janeiro e Nordeste, enquanto que hoje o foco é o Sudeste, inclusive cidades do interior paulista e fluminense.

Formiguinhas Mas a preocupação das autoridades brasileiras e de outros países da América do Sul é com a entrada de armamentos chineses de alta potência, como os fuzis Norico, uma imitação do russo AK-47, o mais usado nas guerras civis existentes em várias partes do mundo. Além de ter entrado no Brasil algumas vezes, e apreendido pela Polícia Federal, a arma está sendo enviada em massa para a Colômbia, via África, onde também abastece as Farc que, em contrapartida, fornece cocaína aos traficantes. No ano passado, foram descobertos dois carregamentos de 3.500 fuzis.

Se na fronteira sul do país a preocupação é maior, o Norte do Brasil ainda não requer cuidados especiais. A PF tem observado um tráfico de armas em pequena escala. ¿São os chamados traficantes formiguinhas que carregam revólveres ou pistolas de pequeno porte¿, afirma um delegado da Polícia Federal. ¿Os usuários de armas pesadas no Brasil utilizam mesmo é a rota do Paraguai¿, acrescenta. Entretanto, investigações da PF já identificaram carregamentos feitos pelos rios, por onde também são contrabandeados remédios para as Farc. Normalmente, os barcos retornam com droga fornecida pelos guerrilheiros. ¿Mas o armamento que vai para o grupo não passa pelo Brasil¿, diz o delegado.

Em 2005, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara que investigou o tráfico de armas apontou pelo menos 140 pontos de entrada na fronteira brasileira. Segundo o deputado Raul Jungmann (PPS-PE), a situação segue preocupante, inclusive com a ação do narcotráfico. ¿Em vários estados, estamos verificando esse tipo de problema¿, diz o parlamentar.