Título: Controle faz dólar disparar na Argentina
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 21/03/2013, Economia, p. 25

Após taxação do governo, moeda atinge 8,75 pesos no paralelo, maior nível em 11 anos

Dois dias depois de a Afip - a Receita Federal da Argentina - ter anunciado novas medidas de controle do mercado cambial, a cotação da moeda americana no mercado paralelo voltou a disparar, fechando em 8,75 pesos, o maior patamar desde que o país terminou com o regime da conversibilidade (a paridade entre o dólar e o peso), há 11 anos. Em apenas um dia, o valor do dólar paralelo subiu 48 centavos de peso. Já no mercado oficial, onde são realizadas as poucas operações autorizadas pela Receita argentina, o dólar continuou estável, em 5,10 pesos. A diferença entre as duas cotações é de 71,6%. Como na Venezuela, o ágio entre o dólar oficial e o chamado "dólar blue" é cada vez maior.

valorização de 80% em um ano

Segundo o "Clarín", há um ano o dólar era cotado a US$ 4,80, ou seja, está quase 80% mais caro agora. Este ano, a valorização da moeda americana já atingiu cerca de 28%, de acordo com o "La Nación".

A principal medida comunicada na última segunda-feira elevou de 15% para 20% a sobretaxa cobrada em todas as operações realizadas com cartão de débito ou crédito no exterior.

A partir de agora, a mesma taxa será aplicada, também, a pacotes turísticos e passagens aéreas, informou o diretor da Afip, Ricardo Etchegaray, o mesmo funcionário que no ano passado assegurou que o principal objetivo da Casa Rosada com o controle cambial é favorecer o turismo interno.

- Queremos que os argentinos passem o verão na Argentina - disse Etchegaray, no fim do ano passado, provocando grande polêmica no país.

Apesar das medidas adotadas pelo governo, muitos argentinos optaram por destinos internacionais nos meses de janeiro e fevereiro, entre eles o Brasil, já que os preços cobrados por hotéis nacionais sofreram fortes reajustes, dada a expectativa que existia de crescimento do turismo interno.

- Por uma semana na praia de Cariló (litoral da província de Buenos Aires) me pediam o mesmo valor que me custou passar minhas férias no Brasil - contou Mariana Molina, dona de uma empresa de assessoria de imprensa.

Operadores do mercado paralelo não sabiam dizer até que patamar pode chegar a cotação do dólar nos próximos dias.

- Hoje, o dólar não tem teto na Argentina - disse um cambista, que pediu para não ser identificado.

Segundo ele, as pessoas estão assustadas, temem novas medidas e uma nova crise no país. Alguns fatos, como a decisão da Vale de suspender seu projeto na Argentina, também teriam contribuído para criar este clima de incerteza que levou muitas pessoas a comprar dólares.

Com o salário mínimo em 2.875 pesos desde fevereiro passado, cada vez fica mais difícil manter a tradição de economizar em moeda americana. No entanto, a compra de dólares é uma mania nacional há décadas, e a política cambial do governo de Cristina Kirchner não está conseguindo modificá-la.