Título: Síria pede à ONU que investigue ataque
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Fonte: O Globo, 21/03/2013, Mundo, p. 32

Obama diz que regime será responsabilizado caso se confirme uso de armas químicas

Damasco Envolvido em uma violenta guerra civil contra insurgentes que em dois anos já deixou mais de 60 mil mortos, o governo da Síria pediu à ONU a formação de uma comissão internacional independente para investigar a origem do ataque que causou 25 mortes anteontem em Aleppo. O regime liderado por Bashar al-Assad e os rebeldes que se opõem ao ditador se acusam mutuamente pela queda de um míssil - supostamente com uma ogiva química - no distrito de Khan al-Assad, sem assumir, até agora, responsabilidades no incidente. Tampouco há consenso sobre a natureza dos ataques: há dúvidas sobre o possível uso de algum tipo de pesticida orgânico, em vez de armas químicas, no momento da explosão.

Uma carta assinada pelo ministro de Relações Exteriores da Síria, Walid al-Moallem, solicita ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, "uma missão especializada, independente e imparcial para investigar o incidente no qual terroristas usaram armas químicas num ataque a Khan al-Assad, em Aleppo". Os rebeldes, no entanto, atribuem a autoria do ataque ao regime sírio - dono do maior arsenal químico no Oriente Médio.

O temor de que o uso de armas de destruição em massa intensifique um conflito já violento chamou a atenção da comunidade internacional, até agora reticente sobre uma intervenção militar. A confirmação da utilização de material químico poderia mudar a posição dos EUA e seus aliados.

Em visita a Israel, o presidente americano, Barack Obama, afirmou estar cético sobre as acusações do regime contra os rebeldes - e, na falta de provas, afirmou que as investigações vão continuar.

- Temos claro que o uso de armas químicas contra o povo sírio seria um erro grave e trágico - disse Obama em Jerusalém, ao lado do premier israelense Benjamin Netanyahu. - O regime de Assad deve entender que será responsabilizado pelo uso de armas químicas ou sua transferência para grupos terroristas.

cameron quer armar rebeldes

O Reino Unido afirmou que, caso o governo sírio tenha ordenado um bombardeio químico, a União Europeia poderia rever o embargo de armas à Síria. Isso significaria que os países-membros poderiam começar a armar rebeldes, dando ao embate um desfecho imprevisível.

- O presidente da França e eu estamos preocupados com ficar de mãos atadas pelos próximos meses, enquanto não sabemos o que está acontecendo na Síria, incluindo os preocupantes relatos do uso de armas químicas - afirmou o primeiro-ministro britânico David Cameron.

Em dezembro, os EUA alertaram que o governo sírio teria armado mísseis com sarin, gás considerado letal, que seriam usados em bombardeios contra a população - o mesmo não foi levantado em relação aos rebeldes, que agora usam esse argumento para acusar o regime de Assad pelo ataque.

Uma ação mais efetiva da comunidade internacional deve continuar a esbarrar, porém, na Rússia, que endossou a versão do regime sobre o ataque e vem barrando sistematicamente tentativas de ação do Conselho de Segurança da ONU contra a Síria.