Título: Educadores defendem maior rigor no Enem
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 22/03/2013, País, p. 3
As declarações do presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Luiz Cláudio Costa, sobre os problemas apontados na correção das redações dividiram as opiniões de educadores. Professores de alguns dos principais colégios e cursinhos pré-vestibulares, porém, concordaram com maior rigor nas avaliações.
O coordenador de Língua Portuguesa e Redação do colégio e curso pH, Filipe Couto, entendeu as palavras do presidente do Inep como um "reconhecimento de erro" ao comentar que deboches mereceriam nota zero. O coordenador disse, porém, que Costa contradiz as regras do Enem, já que "desvios graves", como erro de concordância, não podem receber nota máxima, segundo o Guia do Participante distribuído pelo MEC, manual que contém as regras da prova.
- Erros de concordância são desvios graves pelo guia, e não podem receber nota 200 (máxima na competência). Já desvios leves como erro de ortografia podem receber no máximo nota 160. Ou o presidente do Inep não leu direito o edital que ele fez, ou milhões de alunos não leram - disse Couto.
A professora de redação do cursinho pré-vestibular CPV, de São Paulo, Daniela Aizenstbin, acredita que o exame deveria seguir à risca o que propõe em seu edital. No caso das redações com deboches, ela concordou que elas precisam ser zeradas.
- Eu não vejo prejuízo para o aluno que estuda. Uma medida como esse torna a prova mais séria. Deixa claro que não tem espaço para isso. O aluno que é sério não se arrisca a fazer esse tipo de coisa - apontou Daniela.
Ela lembrou que esse problema não é uma exclusividade do Enem. Todos os anos a Fuvest, maior vestibular do país e que seleciona os alunos que da Universidade de São Paulo, apresenta as 30 melhores redações da prova e algumas também mostram erros de português. Para ela, ao tornar a avaliação mais rigorosa, o MEC tem a oportunidade de fazer um exemplo para o país.
- Acho que o Enem pode servir como exemplo nesse sentido. Esses processos seletivos condicionam o aluno a estudar. Quando o exame é muito rigoroso, o aluno busca superar uma série de lacunas que ele traz - explicou.
professor defende tese do conjunto
Por outro lado, Walter Maldonado, professor do Colégio e Curso Energia, de Florianópolis, defende que as avaliações sejam ponderadas e que o conjunto seja levado em conta na hora da avaliação da norma culta.
- Se o sujeito escreveu ideia com acento, por exemplo, e repetiu ela mais duas vezes sem acento, isso mostra que ele vacilou e não que ele não domina a norma. Agora, é preciso saber se ele domina a linguagem. A avaliação tem que ser como um todo.
Já para o diretor-presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista Oliveira, o MEC precisa fazer uma reflexão desde a necessidade da existência da redação no exame até propósitos da prova. Para o educador, existem outras maneiras de se fazer a mesma avaliação.
- Se você olhar ao longo do tempo: o que mudou no fato de ter a redação? Mudou a forma de ensinar o processo de pensar e estruturar a redação? Quando você avalia a intenção e o resultado da política, o custo beneficio é negativo - disse Oliveira.
De acordo com ele, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), por exemplo, não possui redação e mesmo assim consegue fazer uma avaliação consistente dos alunos. Por isso, ele questiona o propósito do MEC ao fazer o exame:
- Essa prova é para avaliar o ensino médio ou para o aluno ter uma chance de entrar no ensino superior? Há erros de concepção da prova. Isso precisa ser enfrentado. Quando você faz uma prova para uma multidão, tem um problema de adequação e essas coisas são pensadas de forma atabalhoada.