Título: A sociedade indica que não é justo o que está ocorrendo
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 22/03/2013, País, p. 4

Até agora atuando nos bastidores na crise instalada na Comissão de Direitos Humanos da Câmara, a ministra Maria do Rosário, dos Direitos Humanos, diz que a manutenção de Marco Feliciano (PSC-SP) no cargo significará um descrédito das instituições. E fez um apelo para que Feliciano faça um gesto em direção às minorias "que têm seus direitos ofendidos nesse momento".

Como a sra. avalia o que está ocorrendo na Comissão dos Direitos Humanos?

No governo, somos muito zelosos de não atuar de forma que desrespeite a autonomia entre os Poderes, assegurada pela democracia e o que é básico. Todos sabem disso, e não temos uma atitude de contraponto gratuito a decisões do parlamento. Mas, nos direitos humanos, o Parlamento tem sido um parceiro da agenda brasileira. Temos uma agenda de direitos humanos na Câmara muito forte. E que precisa avançar. E os rumos que a Comissão de Direitos Humanos tomou no atual período podem comprometer essa agenda.

O que pode ser feito?

Temos que trabalhar para que não existam problemas e aconteça um comprometimento negativo. Temos projetos de lei a serem votados. A história dos direitos humanos no Brasil é uma história de pacificação da sociedade. E essa sociedade está indicando, de forma lúcida, que não é justo o que está ocorrendo. A comissão é o instrumento que ela tem para contar dentro da Câmara dos Deputados. É a defesa dos segmentos que sofrem preconceito, que são os mais vulneráveis. E a comissão não pode estar dissociada dessa pauta.

A sra. confia em uma solução para esse impasse, diante da radicalização e proporção que a indicação de Feliciano tomou?

Tenho esperança, sim. A Câmara sabe disto. E acho que se encontrará uma solução para que ela retome seu objetivo e sua razão de existir, que é a defesa dos que são atacados por manifestações preconceituosas. Esse é o sentido da existência dessa comissão.

O que pode acontecer se essa mudança não vier, e o deputado Feliciano continuar no cargo?

Imagino que haverá um descrédito nas instituições. Haverá um afastamento das instituições dos setores sociais, que estão tendo negado espaço dentro dessa estrutura. Faria um apelo, de bom senso, para que o diálogo seja retomado. E faço um apelo ao próprio parlamentar que veio ocupar esse espaço (Marco Feliciano), e a seus aliados, que faça um gesto em direção a esses segmentos, que têm seus direitos ofendidos nesse momento. Quero contestar ideias, jamais desrespeitar outro Poder, ou qualquer pessoa ou religiosidade.