Título: Termômetro indica cautela
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 17/10/2009, Economia, p. 20

Indústria de embalagens, a primeira a mostrar aquecimento nas vendas do país, recupera-se aos poucos

Transporte de papelão: indústria do setor ainda não apresenta números que justifiquem euforia, mas sinaliza Natal melhor que o de 2008

A indústria de papelão ondulado, que serve como termômetro para a economia por embalar quase tudo que é produzido no país, reflete o receio dos lojistas. Por isso, acumula variação negativa de 4,45% no ano nas vendas. ¿Já começou o Natal. Em setembro, outubro e novembro, normalmente temos pedidos, mas neste ano foi um pouco mais atrasado por conta da crise¿, relata o presidente da Associação Brasileira de Papelão Ondulado (ABPO), Paulo Sérgio Peres.

Até setembro, o mês de melhor desempenho para o setor, a indústria produziu 1,6 milhão de toneladas do material. Para conseguir chegar aos níveis de 2008 precisará crescer 28% no último trimestre do ano, o equivalente a 9,3% ao mês. Variação que nunca foi registrada na série histórica da ABPO, medida desde 2006. Nem mesmo o bom desempenho do nível de empregos(1) com carteira assinada ¿ e o consequente aumento da renda e do consumo ¿ deve provocar tal crescimento.

Para que a indústria do papelão bata 2008, o comércio teria de aumentar os estoques e fazer as vendas crescerem próximas de dois dígitos ao mês. Mas, segundo estimativas da Confederação Nacional do Comércio (CNC), o varejo deve obter um incremento de apenas 0,3 ponto percentual até dezembro. ¿Estamos trabalhando com expectativas de fechar com uma alta de 5% nas vendas (comparado com 2008). É um crescimento só um pouco acima do que saiu na Pesquisa Mensal do Comércio, que está com um acumulado de 4,7% no ano¿, observa o economista da CNC, Fábio Bentes.

1- Trabalho O Brasil conseguiu zerar as perdas de empregos provocadas pela crise mundial. O saldo líquido de setembro (252,6 mil vagas) foi o melhor resultado de 2009 e acumulou no ano 932,6 mil novos postos com carteira assinada. O número supera em 135 mil as vagas perdidas com a crise. Entre novembro de 2008 e janeiro deste ano, o Brasil havia perdido 797,5 mil postos.

Indústria melhora

A indústria começa a se mostrar otimista em relação ao fim do ano. Perto do que amargaram em 2008, os empresários acreditam que os últimos dois meses de 2009 serão de redenção. Com o aumento da confiança das famílias, a tendência é de que o consumo deslanche e impulsione as fábricas. Apesar de ainda não ter dados precisos sobre compras de matérias-primas e volume de encomendas, Flávio Castelo Branco, gerente executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), prevê que a demanda será forte. ¿A economia vem se recuperando e os dados de emprego são bastante positivos. A situação atual é completamente diferente da que vimos em 2008¿, explica.

Com o dólar barato, segmentos de eletroeletrônicos e têxteis não deverão se apropriar integralmente do momento de retomada, mas nem isso é visto como obstáculo pela indústria nacional. ¿As importações devem reagir fazendo com que parte da demanda vaze¿, completa Castelo Branco. A grande incógnita é saber como a produção ¿casará¿ com o consumo. De qualquer modo, as indústrias descartam passar novamente pelo trauma de 2008, quando a escassez de crédito fez com que as mercadorias encalhassem. Para Castelo Branco, é possível esperar que em 2010 o acúmulo de produtos seja ¿um pouco mais baixo¿.

A Grow, empresa fabricante de brinquedos, compartilha das boas expectativas do gerente executivo da CNI. Por meio da assessoria de imprensa informou que no último trimestre do ano espera vender 70% de toda a sua produção, o equivalente a quase 5 milhões de brinquedos. A empresa enfrentou, no fim de 2008, uma queda nas vendas, mas acredita que logo vai reestabelecer os níveis de vendas registrados antes da crise mundial. Em relação aos estoques de Natal, a Grow começou a receber a maioria dos pedidos após o Dia das Crianças.