Título: Mantega diz que desonerações somarão R$ 106 bi até 2014
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 22/03/2013, Economia, p. 28

As desonerações feitas para turbinar o Produto Interno Bruto (PIB) somarão R$ 106 bilhões até 2014, informou ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Em 2013, o valor chegará a R$ 50,7 bilhões. Já em 2014, será de R$ 55,45 bilhões. Segundo Mantega, o governo vai incluir mais setores na desoneração da folha de pagamentos, incentivo que já beneficiou 42 segmentos da economia brasileira.

- A desoneração da folha começou, mas não terminou - disse o ministro Mantega.

Durante a audiência, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) disse ao ministro que algumas desonerações parecem bolsa empresa, pois acabam servindo para que a indústria aumente seus lucros, sem repassar a queda de tributos para a população. Um exemplo seria a redução do PIS/Cofins e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos produtos da cesta básica, que ainda não chegou totalmente aos preços cobrados dos consumidores.

- Ainda teremos uma ou duas semanas para a adaptação - rebateu Mantega.

Discussão com senador

O ministro destacou que o governo continuará trabalhando para combater a inflação:

- Continuaremos agindo de modo que a inflação não atrapalhe a vida do país e venha trazer alguma intranquilidade.

Mantega disse que a guerra fiscal já não vale a pena para os estados, pois cria insegurança jurídica e faz com que as empresas reduzam seus investimentos. Segundo o ministro, uma das metas do governo é aprovar a reforma do ICMS.

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) irritou Mantega ao afirmar que suas previsões para a economia têm sido equivocadas.

- Não sei o que é pior, a incompetência ou a mentira deliberada. A bola de cristal do senhor continua quebrada. O senhor não tem sido bem-sucedido como pitonisa - disse Dias.

"bola de cristal pode ter tido defeito"

O ministro rebateu, afirmando que a crise internacional afetou as previsões de crescimento não só do governo, mas dos economistas do mercado. Em 2012, Mantega trabalhava com um crescimento de 4%, mas a taxa fechou o ano em 0,9%.

- Numa crise, ninguém consegue fazer previsões corretas da economia. Em 2012, não esperávamos um agravamento da crise europeia, que pegou todo mundo de calça curta. Muitos erraram, mas não sei se todos vão cair no limbo da desonestidade. Até agora, não sei o que o senador quis dizer com desonestidade. A minha bola de cristal pode ter tido alguns defeitos passageiros, mas costuma funcionar. Não é um pecado mortal não acertar uma previsão quando a economia está conturbada - disse o ministro.

O senador criticou ainda a condução da política fiscal, dizendo que o governo usou maquiagem para fechar suas contas no ano passado. Dias também perguntou a Mantega quanto tempo o governo iria continuar tolerando uma inflação alta. O ministro rebateu novamente.

- Não costumamos usar maquiagem no ministério, pelo menos que eu saiba. Fazemos tudo de acordo com a lei orçamentária e com a Lei de Responsabilidade Fiscal. Eu gostaria que alguém demonstrasse que fizemos isso (usar maquiagem) - afirmou Mantega.