Título: Pressão sobre os tucanos
Autor: Pariz, Thiaigo; Foreque, Flávia
Fonte: Correio Braziliense, 26/10/2009, Política, p. 3

Grupo peemedebista contrário a Dilma alia-se ao DEM e exige rapidez na escolha do candidato do PSDB à Presidência

Quércia: ¿É preciso antecipar para ter um contraponto (a Dilma)¿

O grupo oposicionista do PMDB juntou-se ao DEM para pressionar o PSDB a antecipar a escolha do candidato que disputará a Presidência da República no ano que vem. O grupo, que tem como expoente o ex-governador de São Paulo Orestes Quércia, entende que os tucanos estão perdendo terreno para a ministra Dilma Rousseff, a candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E deixar a definição para o ano que vem só dará mais fôlego aos governistas.

Com dois pré-candidatos ao Palácio do Planalto, os governadores José Serra (São Paulo) e Aécio Neves (Minas Gerais), falta um nome para centralizar as negociações e firmar-se como contraponto a Lula e Dilma. Essa lógica dos peemedebistas de oposição é a mesma que o DEM usou para esquentar a chapa dos tucanos.

¿Acho que deveria antecipar para já ter um contraponto¿, afirmou Quércia. O ex-governador de São Paulo é contra o acordo com o PT e favorável à escolha de José Serra como o candidato tucano. ¿Ele reúne as melhores condições de vitória.¿ Quércia firmou aliança com os tucanos de olho numa candidatura ao Senado e tornou-se um dos principais porta-vozes da insatisfação do noivado com a ministra Dilma, que prevê que o PMDB terá a vice na chapa petista. Hoje, o nome mais lembrado é o do presidente da Câmara, Michel Temer (SP), antigo aliado de seu correligionário.

Presidente do PMDB estadual, Quércia usou palavras duras para desqualificar a iniciativa dos governistas. Classificou o noivado de artificial, desidratado, inválido, autoritário e sem apoio. E disse que seus adversários não terão apoio necessário na convenção nacional para chancelar o acordo. ¿Duvido que passe essa proposta.¿

Para a convenção nacional rejeitar o pré-acordo, é necessário que estados pró-Dilma troquem de lado até março do ano que vem. Quércia aposta que as primeiras baixas ocorrerão em Minas Gerais, se o PT não abrir mão da candidatura própria e apoiar o ministro das Comunicações, Hélio Costa, ao governo, e na Bahia, onde o governador Jaques Wagner (PT) e o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), vivem às turras.

No encontro nacional, a quase totalidade dos votos de São Paulo irá para uma aliança com o PSDB, mas há uma resistência ainda que bastante restrita. Quércia detém o controle dos votos no estados, mas admite que há prefeitos de cidades do interior paulista favoráveis a Dilma e descontentes com sua aliança com os tucanos. ¿Eu acho é que são colocações políticas que não têm validade. Pode ser que tenha simpatia, mas o partido está fechado na aliança com o DEM e PSDB. Nisso não há nenhuma contestação.¿

Candidatura própria Alguns peemedebistas ainda tentam uma candidatura própria do partido. Essa fatia do PMDB avalia que, devido ao tamanho da legenda e seu peso nacional, é possível lançar um nome próprio ao Palácio do Planalto. Depois das eleições municipais de 2008, o PMDB era o partido de pouco mais de 1,2 mil prefeitos do país. ¿Ainda vamos lutar pela candidatura própria. Nossa posição é de não discutir apoio a um ou outro candidato. Porque achamos que um partido com a capilaridade do PMDB pode oferecer uma candidatura alternativa ao PT e PSDB¿, afirmou o ex-governador gaúcho Germano Rigotto.

Pré-candidato ao governo nas eleições de 2010, Rigotto afirma ser prematura a aliança entre o PMDB e a candidata do presidente Lula e defendeu que, no momento, a legenda deveria estar discutindo um projeto de sua própria autoria. ¿O fato de não ter um candidato a presidente, além de enfraquecer o partido, deixa o rótulo de fisiologismo e clientelismo¿, avalia.

Apesar de reconhecer que não há um movimento organizado para reverter o atual cenário, Rigotto avalia que a situação pode ser revertida no futuro. ¿Qualquer que seja o encaminhamento do partido, vai ter um momento que a convenção vai precisar aprovar¿, disse. ¿As pedras não estão colocadas no tabuleiro ainda¿, conclui.

O presidente do PMDB de Goiás, Adib Elias, afirma ter recebido ligações de correligionários insatisfeitos com a aliança firmada com o governo. ¿A cúpula tem feito muito mal ao partido.¿ Apesar das críticas, ele reconhece que para o estado goiano a decisão apenas selou a união entre legendas que seguem unidas. ¿Para nós, não há nenhuma possibilidade de aliança com o PSDB.¿ Os tucanos têm como pré-candidato ao governo o senador Marconi Perillo, e os peemedebistas devem lançar o nome de Iris Rezende, prefeito de Goiânia. A filiação do presidente Henrique Meirelles ao PMDB foi mais um reforço da legenda no estado. ¿Para Goiás, a aliança do PMDB com o PT foi a cereja no sorvete¿, brincou Elias.

Quatro perguntas - Orestes Quércia

O que o senhor achou do acordo do PMDB com o PT? Duvido que passe essa proposta. Eles não discutiram no partido, não discutiram no conselho do partido. Tínhamos uma reunião com o Michel Temer e o Henrique Alves que não foi feita. São Paulo Pernambuco e Rio Grande Sul eram contrários ao acordo. Eles prometeram discutir o assunto, debater e no fim não debateram nada e fizeram por conta deles de uma forma autoritária.

Mas esse acordo sai? O PT ainda não definiu oficialmente a candidatura da Dilma. Não tem como fazer esse pré-acordo. Não tem validade.

É possível o PMDB fazer outra aliança para 2010? Pode enfraquecer a possibilidade de fazer a aliança com a Dilma. Há uma reação grande com os diretórios estaduais. Forçando a tomar a decisão, mas não vai acontecer. Eles montaram uma comissão com o Geddel, o Hélio Costa, eu acho que as circunstancias vão levar a Bahia e Minas a apoiarem o PSDB. Na Bahia, depende dos apoio dos governadores. Em Minas, o Aécio é muito amigo do Hélio Costa, e eles estão se entendendo bem. Eles fizeram essa comissão e colocaram o Geddel e o Hélio Costa só para constrangê-los. É tudo artificial o que eles estão fazendo.

O que acha da indecisão do PSDB na escolha do candidato? O candidato vai ser um dos dois. Ou é Serra ou Aécio. Os dois vão decidir quem será o candidato.