Título: Sem solução à vista no Dia D de Feliciano
Autor: Éboli, Evandro; Braga, Isabel; Bruno, Cássio
Fonte: O Globo, 26/03/2013, País, p. 6

O "Dia D" estipulado pelo presidente da Câmara para selar o destino do deputado Marco Feliciano (PSC-SP) na Comissão de Direitos Humanos pode terminar sem uma solução. Assessores de Feliciano asseguram que ele não renuncia ao cargo. Na semana passada, dirigentes do PSC se comprometeram com o presidente Henrique Alves (PMDB-RN) em oferecer uma "solução respeitosa" até hoje. Por sua vez, o deputado e pastor não só diz que fica como já define uma agenda para a comissão na semana que vem.

O chefe de gabinete de Feliciano, Talma Bauer, garante que o deputado não renuncia e comparou sua "trincheira" com a batalha de Henrique Alves para se eleger presidente da Casa.

- O pastor Feliciano está bem firme e decidido a não renunciar. A imprensa, graças a Deus, parou de falar nessa coisa de que ele é homofóbico. Não tem caminho de volta - garante Bauer. - E o presidente da Câmara é o espelho para o Marco Feliciano. Ambos enfrentam... O presidente da Câmara enfrentou quase que uma campanha do contra. E os dois se assemelham na determinação de enfrentar aqueles que não queriam que eles fossem candidatos. Os dois têm a mesma garra. Não dão bola para a torcida.

anistia internacional pede saída

O assessor diz que cerca de 6 mil evangélicos foram consultados, em pesquisa, e 99% querem que o deputado não renuncie. O presidente da Frente Parlamentar Evangélica, deputado João Campos (PSDB-GO), disse que a bancada vai discutir o assunto esta semana, porém defendeu a permanência de Feliciano na comissão e alertou que o vice-presidente e homem forte do PSC, Pastor Everaldo, disse que a ordem é não renunciar:

- O Pastor Everaldo me disse que a orientação é para que Feliciano não renuncie, fique firme - afirmou João Campos.

Em uma entrevista ao programa "Pânico", gravada há uma semana e exibida no último domingo, Feliciano diz que só sairia "morto" da comissão. Além de divulgar normalmente a agenda da comissão, Feliciano ainda anunciou em seu site que prepara uma visita à Bolívia para acompanhar a situação dos 12 torcedores corintianos presos naquele país, após a morte de um torcedor durante jogo entre Corinthians e San José, em fevereiro.

Ontem à noite, no Rio, um ato reuniu artistas, parlamentares e lideranças religiosas, entre eles, Caetano Veloso e Wagner Moura, para pedir a saída de Feliciano do comando da comissão. O evento, organizado pelo deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), ocorreu na Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Foram recolhidas assinaturas para um abaixo-assinado contra Feliciano, que será entregue hoje a Henrique Alves. Em discurso, Caetano Veloso afirmou que o momento é de união:

- Estamos reunidos aqui hoje para dizer que no Congresso não se podem fazer coisas absurdas, significa também dizer que nós não queremos viver sem o Congresso.

Já a Anistia Internacional manifestou preocupação com a permanência de Feliciano na presidência da comissão. Para a entidade, ele adotou posições "claramente discriminatórias" em relação à população negra, ao movimento LGBT e às mulheres, e sua escolha para a presidência da comissão de direitos humanos é "inaceitável".

Feliciano foi eleito, e o presidente da Câmara não pode tirá-lo da função. O parlamentar só perde o posto se renunciar.