Título: PSC blinda Feliciano
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 27/03/2013, País, p. 3

O PSC bancou a permanência do deputado Marco Feliciano (PSC-SP) à frente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Com o fracasso da pressão sobre o parlamentar - que envolveu até mesmo uma tentativa avalizada pelo presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), para esvaziar o órgão - os líderes decidiram convocar Feliciano para a reunião do Colégio de líderes na terça-feira da semana que vem e farão uma nova ofensiva para tentar convencer o parlamentar a desistir do comando da comissão. Desta vez, será uma conversa com o próprio deputado.

- Não é o fato de ele ter sido eleito que encerra o assunto. O DEM já teve que tirar o Edmar Moreira de cargo da Mesa porque não é a vontade do partido que deve prevalecer. Mas sim a vontade da Casa - disse Ronaldo Caiado (GO), líder do DEM.

Ontem, o presidente Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) tentou articular o esvaziamento do colegiado. A ideia apresentada pelo PDT e discutida numa reunião de líderes ontem à noite era que partidos aliados retirassem os nomes que indicaram para a comissão. Com isso, o colegiado teria dificuldade de quórum para abrir os trabalhos e votar projetos, se inviabilizando. Sem alternativa e com um discurso que poderia vitimizá-lo e garantir dividendos eleitorais, Feliciano teria argumentos para renunciar, e a Casa retomaria a normalidade. Mas a proposta encontrou resistências de alguns líderes por conta do número de pastores de vários partidos que integram as legendas.

- Quis compartilhar a responsabilidade com líderes. Peço paciência a todos. Estamos em busca de uma solução respeitosa e democrática. Não temos nada contra o PSC, nada contra os evangélicos. Que isso fique claro. Estamos falando do comportamento de um deputado que está à frente da comissão - disse o presidente da Câmara.

- A solução tem que ser coletiva, institucional. Sem violência, sem vitimização. Todo mundo tem que concordar com uma saída legítima. É a defesa da instituição - afirmou o deputado Nilmário Miranda (PT-MG), que integra a comissão de Direitos Humanos.

Apesar das pressões do presidente da Casa para que ontem fosse dada uma solução para a polêmica, o PSC manteve o apoio a Feliciano, que à noite ainda ganhou apoio da Frente Parlamentar Evangélica.

A frente evangélica deixou claro a Henrique Alves que só não aceita qualquer manobra para substituí-lo como também cobrou que o presidente da Câmara dê condições para o parlamentar presidir a comissão, mantendo os manifestantes contrários à sua gestão sob controle. O presidente da frente, João Campos (PSDB-GO), ameaçou obstruir outras votações, com os 70 deputados que integram a bancada.

- A Frente Parlamentar Evangélica decidiu pelo apoio integral a Feliciano. O regimento da Casa não permite baderna. Não é fechar a sessão, é tirar os baderneiros, são sempre os mesmos - disse João Campos. - Um grupo de seis deputados está obstruindo e inviabilizando as sessões da comissão. Nós temos 70 deputados na Frente. Podemos obstruir também.

A decisão de manter o apoio a Feliciano foi tomada em reunião na tarde de ontem que também contou com a presença de integrantes da Executiva Nacional do PSC, entre eles o vice-presidente e homem forte da legenda, pastor Everaldo Pereira. Segundo deputados do PSC, Marco Feliciano falou pouco na reunião, mas reafirmou que só deixaria a presidência da comissão morto. A maior defesa de sua permanência foi feita por Everaldo.

A nota de três páginas, assinada por Everaldo, lembra do apoio que ele e a legenda deram ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outros candidatos do PT e PC do B em diferentes momentos nos últimos anos. Nela, o PSC diz que, se preciso, poderá convocar para virem se manifestar na Câmara os que defendem Feliciano e pediu respeito aos demais partidos da Câmara. A nota chega a citar a escolha de Eleonora Menicucci para a Secretaria de Polícias para as Mulheres, dizendo que houve protestos por parte deles, mas de forma respeitosa.

O partido diz que Feliciano é "ficha limpa" e foi eleito pela maioria dos integrantes da comissão. Segundo a nota, o deputado já se desculpou por afirmações malfeitas. "Qualquer um pode deslizar nas palavras, pode errar. Informamos aos senhores e senhoras que o PSC não abre mão da indicação".