Título: Dilma não é de mandar recados, nem eu de receber
Autor: Lima, Maria; Bonfati, Cristiane
Fonte: O Globo, 27/03/2013, País, p. 6

A tensão crescente entre a cúpula do PT e do governo com o governador Eduardo Campos (PSB) ficou explícita novamente ontem, um dia após a troca de farpas com a presidente Dilma Rousseff no palanque em Pernambuco. Convidado a discutir no Senado a Medida Provisória 595, que cria o marco regulatório dos portos, o provável adversário de Dilma em 2014 travou um duro duelo verbal com a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Numa agenda que foge de sua rotina, Gleisi foi ao debate para rebater os argumentos do governador. A irritação de Campos com a MP torna cada dia mais insustentável a permanência de seu grupo no governo Dilma.

Causou estranheza até aos petistas o tom belicoso da ministra, que criticou inconsistências na exposição de Campos e disse que o governo não pode decidir um projeto de país partindo dos interesses de Pernambuco. Surpreendeu também o governador, que evitou revidar, mas, na sua exposição inicial, sugeriu se tratar de um "capricho" a insistência do governo em tirar autonomia dos estados na gestão dos portos.

- Parece um capricho tirar a autonomia dos estados! Por que isso? Não vejo por quê. Muitos portos são geridos pelo governo federal. É só comparar o resultado desses portos com o Porto de Suape, que há 30 anos é gerido pelo governo de Pernambuco. Qual é o melhor porto? - questionou Campos, festejado por estivadores e portuários.

Mais cedo, Campos disse que não entendeu como um recado o discurso da presidente em Serra Talhada (PE), onde ela cobrou parceria e disse que precisava de aliados comprometidos com seu projeto:

- A presidenta Dilma não é mulher de mandar recados, nem eu sou homem de receber recados. Ela não é dada a esse tipo de conversa, nem eu.

Na audiência pública, usando um telão, onde projetou estudos e números sobre Suape, Campos deu a primeira estocada quando disse que o porto tem mais dinheiro do estado do que federal:

- Fomos surpreendidos do dia para a noite pela MP. Não temos nenhuma problema de caráter político. Imagino que não. Também não tem problema de caráter técnico. Então, não sei por que não chegamos a um entendimento - disse Campos, pedindo a exclusão de Suape da MP.

Gleisi revidou:

- As medidas não nasceram de uma vontade, de uma hora para outra. Nasceram de uma reflexão profunda, de estudos que levaram em conta a busca da eficiência. Esse é um projeto de país, o Brasil não pode parar.

- Sabemos dos propósitos da presidente Dilma, mas é preciso ter bom senso. Meu dever é defender, em nome de Pernambuco, o que construímos com grande esforço - respondeu Campos, aplaudido por seus aliados.

- Não podemos criar um marco regulatório partindo de Suape e Pernambuco, com todo o respeito! - retrucou Gleisi, aplaudida pelos petistas.

O líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (RS), disse que Gleisi foi deselegante. Já o deputado André Vargas (PT-PR) elogiou o desempenho da ministra.