Título: Brasil deve injetar US$ 18 bi em fundo dos Brics contra crises
Autor: Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 27/03/2013, Economia, p. 27

O governo brasileiro deve garantir um aporte de US$ 18 bilhões para o fundo de reservas que deverá ser anunciado hoje pelos chefes de Estado que participam da V Cúpula dos Brics (bloco dos países emergentes formado por Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul), que acontece em Durban, na África do Sul. O mecanismo de resgate mútuo em caso de turbulência econômica foi aprovado ontem pelos ministros da Fazenda do grupo e deverá ser confirmado na reunião dos chefes de Estado.

Com reservas cambiais da ordem de US$ 3,3 trilhões, a China deve empenhar a maior contribuição: US$ 41 bilhões. Rússia e Índia se comprometeram com o mesmo valor do Brasil, e a África do Sul, com US$ 5 bilhões, compondo os US$ 100 bilhões, conforme antecipou ontem O GLOBO. No caso do Brasil, o governo deve enviar uma emenda ou um projeto de lei para aprovar o fundo de reservas na Câmara.

- Vamos indicar aos nossos líderes que estamos em condições de levar adiante esse CRA (Contingent Reserve Arrangement, na denominação em inglês). É mais uma retaguarda financeira - disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, depois de reunião com os demais ministros dos Brics. - De certa forma, o arranjo de reservas que está sendo construído ao nível dos Brics nada mais é do que um grande acordo swap, onde cada país coloca à disposição um certo volume de recursos que poderá ser sacado pelo outro país, só que não com a mesma moeda. No primeiro momento, o referencial será o dólar. É a transformação de swap bilateral em multilateral.

Banco de desenvolvimento só em 2016

O CRA será um tipo de fundo de reservas virtual. Os governos devem apenas se comprometer a desembolsar os recursos caso sejam acionados. O mecanismo será a decisão mais importante desta cúpula dos Brics, não só pela retaguarda em caso de crise como também pela posição política diante dos países mais desenvolvidos. Mantega afirmou que a repercussão da crise de Chipre na Europa causa preocupação:

- A crise de Chipre não tem impacto direto sobre o Brasil e não piora a situação, que não estava boa do ponto de vista das finanças e do crédito dos europeus. Apenas mostra que, ainda agora, os europeus não conseguiram equacionar todos os seus problemas. Porque, se um país pequeno como Chipre, que tem um volume de recursos muito pequeno, consegue abalar a confiança dos mercados, talvez pela forma com a qual foi feita essa intervenção, isso realmente traz alguma preocupação.

Outro mecanismo de proteção contra crises discutido pelos Brics é a criação de um banco de desenvolvimento. A ideia é que o banco tenha um aporte inicial de US$ 50 bilhões, divididos igualmente pelos cinco países. O problema é que nem sobre esse montante os governos definiram o acordo e o país mais resistente tem sido a Rússia. Nas decisões finais de hoje, os chefes de Estado devem sinalizar para que as negociações prossigam, mas o banco só deve ser constituído em 2014 e começar a operar em 2016, segundo estimativa do Ministério da Fazenda. Sobre o capital do banco, Mantega disse que é preciso "referendar" a medida com os chefes de Estado.

- O banco de desenvolvimento dos Brics é uma necessidade. Ele não exclui os bancos já existentes.

Brasil e China anunciaram ontem um acordo de troca de moeda no valor de US$ 30 bilhões. O contrato valerá por três anos e é renovável. Segundo o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, "o objetivo é facilitar o comércio entre os dois países, independentemente de quais sejam as condições do ambiente financeiro internacional".

- Esse valor de swap representa oito meses de exportação do Brasil para a China e dez meses de importação do Brasil da China. É uma linha suficientemente grande para que as nossas operações comerciais funcionem independentemente das condições do mercado financeiro internacional - disse ele.

Além do acordo de troca de moedas, Mantega disse que o país deve se abrir aos chineses no setor de infraestrutura.

- Estaremos abertos para que os chineses possam participar desses empreendimentos de infraestrutura, energia e também na área de petróleo e gás, em vários setores onde pode ser encontrada uma sinergia, uma complementaridade que podemos explorar - anunciou Mantega.