Título: Igreja espera 2,5 milhões na Jornada da Juventude
Autor: Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 24/03/2013, Rio, p. 42

Organizadores do evento acreditam que o número de fiéis poderá crescer em 500 mil por causa do novo Papa

SÃO PAULO O carisma de Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, deve atrair uma multidão de argentinos e de jovens de todo o mundo para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que acontece de 23 a 28 de julho no Rio. Os organizadores do encontro já apostam que o público poderá crescer em meio milhão, sendo estimado entre dois milhões e 2,5 milhões de fiéis.

Vice-presidente do Comitê Organizador Local da JMJ, o bispo auxiliar do Rio de Janeiro, dom Antonio Augusto, estima que compareçam ao evento mais argentinos, devido à origem de Francisco, que foi arcebispo de Buenos Aires, e mais latino-americanos, já que este é o primeiro Papa do continente.

Além de um público maior na Jornada da Juventude, teólogos e organizadores avaliam que Francisco usará uma linguagem mais descontraída e marcará seu discurso com a defesa da ecologia, do ecumenismo e da preocupação com os pobres. Mas, apesar do estilo "pop", Francisco não deverá surpreender os católicos nos temas polêmicos para a Igreja, como a homossexualidade, o uso de preservativos e o aborto. Dom Antonio afirma que o Papa terá uma palavra de mais tolerância, mas não fugirá da mensagem da Igreja, que "tem seu conteúdo nem rigoroso nem liberal demais".

- Não existe intolerância com a pessoa. Tem de amar o pecador, o diferente e as pessoas que optaram por outras condutas e crenças - disse o bispo, que completou.- Papa Francisco vai trazer a mensagem de que temos de nos preocupar mais com os pobres não só do ponto de vista material, mas também espiritual. Disse ele que temos de nos abrir a todos e não deixar ninguém na periferia do coração humano.

Para o teólogo Fernando Altemeyer, da PUC-SP, Francisco tem afinidade com a juventude. Ele deve pregar que os jovens assumam um papel missionário e não deve fazer um discurso tão severo como o de Bento XVI, em 2007, no estádio do Pacaembu. Na época, o então Papa afirmou que os jovens deveriam manter a castidade e "resistir com fortaleza às insídias do mal existente em muitos ambientes".

- Ele não deve falar tanto sobre o que os jovens não devem fazer, mas sobre o que devem fazer. Ele também tem insistido muito no cuidado com a ecologia, e isso vai pegar bem entre os jovens - diz o teólogo.

Segundo Altemeyer, os religiosos que esperam algum tipo de ofensiva direta de Francisco para reverter o avanço das igrejas neopentecostais vão se decepcionar.

- Este é um Papa ecumênico. Vai buscar a unidade das igrejas. E, no Brasil, isso tem de passar pelo pentecostalismo.

Ex-frade dominicano e especialista em religião, o professor de filosofia da Unicamp Roberto Romano afirma que, por ser jesuíta, Francisco deve reabrir um debate sobre a ciência, fechado desde os tempos do Papa Paulo VI.

- Francisco tem um dom maior de comunicação, um jeito de falar com multidões, e isso vai aumentar o público da jornada. Por ser jesuíta, deve reabrir o debate da ciência e já deu mostras de que dará mais peso ao colegiado da Igreja - disse Romano.