Título: Com incentivo de sarney, FHC se candidata a vaga na abl
Autor: Sprejer, Pedro
Fonte: O Globo, 28/03/2013, Segundo Caderno, p. 3

Eleição para sucessor do jornalista João de Scantimburgo deve ocorrer em até 90 dias

Oex-presidente Fernando Henrique Cardoso voltou a se candidatar. Desta vez, FHC vai concorrer à cadeira 36, que pertenceu ao jornalista João de Scantimburgo - morto na última sexta-feira, dia 22 - na Academia Brasileira de Letras.

- Ele sentiu que há uma forte simpatia a seu nome na casa e achou que seria o momento certo - disse o jurista Celso Lafer, ex-ministro da Relações Exteriores durante o governo FHC, titular da cadeira 14 da ABL e responsável por oficializar a candidatura.

Em declaração ao jornal "Folha de S.Paulo", Fernando Henrique disse que depois de "tantos amigos insistindo comigo tantas vezes, acabei cedendo. Minha reticência sempre foi a de que não sou homem de letras e não queria criar constrangimentos por ter sido presidente da República".

A articulação que levou o ex-presidente a aceitar tornar-se candidato foi traçada no dia da morte de Scantimburgo, durante um almoço promovido pela Fundação Santillana no bistrô paulistano Le Casserole. Além de FHC, estavam presentes o senador José Sarney e a escritora Nélida Piñon, colegas de fardão na ABL.

Proposta aceita de imediato

Ao ser informada, por telefone, da morte de Scantimburgo, Nélida solicitou a um assessor de Sarney que lhe cedesse o lugar ao lado do senador, titular da cadeira número 38 da ABL.

- Dei a notícia sobre a morte do nosso colega, e lamentamos o fato profundamente. Perguntei quem poderia ser um grande nome para substituí-lo. O Sarney respondeu: "FHC", e fez a proposta ali mesmo - contou Nélida Piñon.

De acordo com a escritora, Fernando Henrique - colunista do GLOBO e autor de obras como "Capitalismo e escravidão no Brasil Meridional" e "Xadrez internacional e social-democracia" -, que havia declinado do convite em outras ocasiões, agora aceitou prontamente. Sarney enalteceu a candidatura:

- Ele tem uma obra sociológica de destaque, está qualificado para a vaga. De minha parte, vou votar nele - disse o senador, para quem o nome de FHC deve ser bem acolhido na casa, independentemente de preferências políticas. - Na ABL, não tem política.

Para o poeta, crítico literário e também imortal Ivan Junqueira, uma possível escolha do nome de Fernando Henrique reflete um antigo critério adotado pela ABL desde os primeiros anos:

- Seria uma típica materialização da tese de Joaquim Nabuco, que defendia que a ABL deve eleger figuras notáveis e ilustres do país, sem necessariamente uma obra que justificasse a escolha. É uma tradição. Vimos isso nas eleições de Ivo Pitanguy e José Mindlin. Eu prefiro votar nos escritores.

Segundo Marcos Vinicios Vilaça, outro articulador da candidatura, o ex-presidente já contaria com pelos menos 28 votos, oito a mais do que o necessário para se eleger. Um acadêmico que preferiu manter-se anônimo revelou que FHC só aceitou se candidatar com o compromisso de não precisar fazer campanha entre os acadêmicos. Por isso, um grupo de "padrinhos" se encarrega de levar à frente a sua candidatura.

O jornalista e escritor Arnaldo Niskier lembra que não há eleição fácil na ABL:

- A votação aqui é um mistério permanente. Cada uma é mais surpreendente do que a outra. Meu voto será secreto.

Seguindo a liturgia da ABL, as inscrições para a cadeira deixada por Scantimburgo foram abertas ontem, após a tradicional Sessão da Saudade, cerimônia em que os acadêmicos homenageiam o colega morto. O prazo para a entrega das candidaturas é de 30 dias. Após o término, a ABL tem 60 dias para realizar a eleição.