Título: Casos de dengue aumentam e matam 74 em cinco estados
Autor: Falcão, Jaqueline; Fagundes, Ezequiel
Fonte: O Globo, 29/03/2013, País, p. 5

Minas reconhece epidemia; situação é crítica em SP, MT, PR e MS

A dengue se espalha por cinco estados brasileiros (São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Paraná) e já matou pelo menos 74 pessoas do início do ano até agora. A situação mais crítica é a de Minas Gerais, cujo governo reconhece enfrentar um quadro de epidemia, com 30 mortes registradas. Segundo dados da Secretaria estadual de Saúde, a situação pode piorar, já que 123.694 notificações de pacientes com suspeita da doença ainda estão sendo analisadas. Somente na capital, são 4.215 casos confirmados e outras 8.664 suspeitas.

Nos outros quatro estados, 44 pessoas morreram somente nos dois primeiros meses deste ano (no mesmo período do ano passado foram registradas sete mortes nesses estados). Em São Paulo, a doença também atinge níveis alarmantes e preocupa especialmente cidades do interior e do litoral. De acordo com o Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE), vinculado à Secretaria estadual de Saúde, os casos de dengue deste ano são cinco vezes maiores do que em igual período do ano passado. Em janeiro e fevereiro deste ano, o estado registrou 14.583 casos e quatro mortes. No mesmo período em 2012, foram 3.727 casos da doença, sem o registro de mortes. Em todo o ano passado, foram registrados 21.967 casos. Neste ano, em dois meses, o número já corresponde a mais da metade de todos os casos registrados em 2012.

A situação é mais crítica no interior. A prefeitura de Cruzeiro confirmou ontem três mortes causadas por dengue. As vítimas são uma mulher de 45 anos e dois homens, um de 53 e outro de 82. A morte de uma jovem de 20 anos também será investigada. Já são 2.709 casos. A prefeitura de São José do Rio Preto também decretou estado de emergência por causa do aumento de casos. Já são mais de três mil e um homem de 38 anos morreu. Os casos de dengue também não param de subir em Bauru. Ontem, a Secretaria municipal de Saúde confirmou que já são 1.769 casos e um idoso de 77 anos morreu na semana passada.

O professor Carlos Magno Fortaleza, do Departamento de Doenças Tropicais da Faculdade de Medicina da Unesp, explica que o estado está sendo atingido pelo vírus tipo 4 da dengue. Entre 2009 e 2012, predominou o vírus tipo 1 da doença, para o qual a população está imune.

- Você só tem cada tipo de vírus da dengue uma única vez. Um vírus novo, no caso do 4, se espalha com muita facilidade, circula de uma maneira mais rápida porque as pessoas não têm imunidade - explica Fortaleza, lembrando que as pessoas que já tiveram dengue, ao serem contaminadas com o tipo 4, podem ter a versão mais grave da doença.

Mato Grosso do Sul registrou neste ano mais de 68 mil casos de dengue. Campo Grande, que desde o início do ano enfrenta epidemia da doença, teve 38.399 notificações no período, mas os atendimentos estão caindo gradativamente, segundo informou Bernadete Lewandowiski, diretora de Vigilância em Saúde, da Secretaria Estadual de Saúde. Vinte pessoas morreram em consequência da doença, e dessas nove foram em Campo Grande, que está sob situação de emergência por conta da epidemia. No ano passado, foram cinco óbitos em todo o estado.

Doença cresce com vírus tipo 4

Em Mato Grosso, 11 pessoas morreram vítimas da dengue desde o início do ano. O número é 450% superior ao registrado no mesmo período de 2012, quando houve duas mortes. As autoridades de saúde já esperavam uma epidemia da doença em razão da introdução no estado do vírus tipo 4, ao qual quase 100% da população mato-grossense estava suscetível por não possuir anticorpos. Desde o início do ano, houve 21.731 notificações, uma elevação de 188% em relação a 2012. Mas a quantidade de mortes é o que assusta mais.

- O estado, assim como o Brasil, está suscetível ao novo vírus. Era quase impossível não haver uma epidemia, apesar dos nossos esforços - diz o superintendente de Vigilância em Saúde do governo, Juliano Silva Melo.

No Paraná, 46 municípios do estado vivem uma epidemia da doença. São 14.505 casos e nove mortes, segundo a Secretaria de Saúde. De agosto do ano passado até dezembro, haviam sido registrados apenas 1.088 casos.