Título: Presidente acerta ao esclarecer que combaterá inflação
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Fonte: O Globo, 29/03/2013, Opinião, p. 16
Não existe de fato uma unanimidade sobre o que precisa ser feito para a inflação recuar ao menos até o centro da meta (4,5%). As opiniões se dividem entre os que não acreditam na eficácia de uma elevação nas taxas básicas de juros neste momento e os que propõem um ajuste o mais breve possível para evitar que as pressões sobre os preços se acumulem, e os índices de inflação continuem perigosamente em patamar bem próximo ao teto da meta (6,5%).
O governo teme adotar uma política que afete o seu principal trunfo da área econômica, que é o desemprego baixo, cujos dividendos podem ser bem observados nas pesquisas de opinião que avaliam a presidente Dilma e sua administração. Segundo essas pesquisas, os percentuais de aprovação de Dilma superam os alcançados por seus antecessores (Fernando Henrique e Lula) ao meio de mandato.
É um quadro em que decisões que deveriam ser eminentemente técnicas acabam contaminadas pelos processos políticos, partidários e eleitorais. Não por acaso, os mercados financeiros se comportam de maneira confusa sobre em qual momento o governo decidirá agir com mais vigor contra a ameaça da inflação. Não é de hoje que se trava no país uma discussão sobre se, por causa das características da economia brasileira, é possível conviver com pouco mais de inflação para não sacrificar o crescimento. A tese mais complacente com a inflação certamente perdeu força, depois do pesadelo que o Brasil viveu por décadas, com uma inflação que parecia indomável. Para assegurar um ciclo de crescimento sustentado, a economia brasileira necessita de investimentos, especialmente em infraestrutura, de longa maturação. Uma inflação alta e que ameace fugir do controle não permite que se planeje tais investimentos, ao menos no caso do setor privado.
A adoção do regime de metas de inflação foi importante para alargar os horizontes dos investidores no Brasil, porque pressupõe um compromisso do governo pró-estabilidade monetária. Daí a reação negativa dos mercados quando as autoridades se mostram vacilantes perante esse compromisso. Na África do Sul, a presidente Dilma chegou a fazer declarações que deram margem para essa interpretação, o que a obrigou a se dirigir mais tarde aos jornalistas para enfatizar que o combate à inflação é importante em si. Melhor que a própria presidente tenha procurado esclarecer o que havia dito, mesmo com a interpretação rebuscada de que suas primeiras declarações teriam sido "manipuladas" por obscuros "agentes de mercado".
A inflação no Brasil ainda está sob controle e se mantém na faixa de tolerância da meta, abaixo de 6,5%, embora bem acima do ponto central, que precisa ser atingido. Porém, quanto mais o governo fraquejar em relação a esse regime, mais difícil será a tarefa do Banco Central de sintonizar a política monetária para que os índices de preços convirjam para os desejados 4,5%.