Título: Sob pressão, Feliciano monta ofensiva para ficar em comissão
Autor: Sassine, Vinicius; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 02/04/2013, País, p. 4

Acusado de racista, deputado procura pastores negros em Porto Velho

Depois de dizer que a Comissão de Direitos Humanos da Câmara era "dominada por Satanás", o que causou reação negativa até mesmo de colegas de partido, o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) adotou nova ofensiva para se desvencilhar das acusações de racismo. O parlamentar procurou 30 pastores negros em Porto Velho no último fim de semana, fez fotos com cada um deles e pretende divulgá-las para mostrar que não discrimina negros, ao contrário da acusação de crime de preconceito de raça ou cor em curso no Supremo Tribunal Federal (STF).

A estratégia se estende aos trabalhos da comissão presidida por Feliciano. Requerimento de sua autoria, aprovado na comissão, propõe a realização de audiência pública sobre o "desafio da inclusão no mercado de trabalho, assegurando a igualdade de direitos e oportunidades, sem discriminação de cor, etnia, procedência ou qualquer outra forma". Assessores da comissão tentam confirmar a presença de convidados para a realização da audiência ainda nesta semana.

Em Porto Velho, Feliciano participou de um congresso da Igreja Assembleia de Deus. A milhares de fiéis, o pastor e deputado mostrou que a crise no Congresso não o constrange. Pelo contrário: na pregação feita na noite de domingo, o deputado capitalizou com o episódio. Disse estar precisando de ajuda e pediu aos fiéis que comprem seus produtos - CDs, DVDs, livros - e que fizessem ofertas a ele. Feliciano afirmou ainda no discurso ser exemplo para os fiéis, que estavam ali para ver um "mito", que vem resistindo a "ameaças de morte". O deputado chegou a falar que os brasileiros ainda ouvirão um presidente da República cumprimentar seus eleitores com "a paz do senhor Jesus".

Antes da pregação, o deputado pediu apoio de pastores para continuar no cargo. Feliciano ressaltou a eles que não vai renunciar ao cargo e que tem o respaldo da bancada evangélica no Congresso Nacional.

- A bancada foi até o presidente da Câmara e obteve a garantia de que fico no cargo - disse o presidente da Comissão de Direitos Humanos, conforme relatos de pastores e deputados que participaram do evento em Porto Velho.

Antes de ir à capital de Rondônia, Feliciano esteve num culto em Passos (MG), na última sexta-feira, ocasião em que disse que a comissão estava "dominada por Satanás" antes de sua chegada à presidência. No fim da manhã de ontem, a deputada Antônia Lúcia (PSC-AC), que também é evangélica, disse que renunciaria à vaga de primeira vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos por se sentir ofendida pelas declarações de Feliciano.

Deputada cogitou renúncia

Por meio da assessoria de imprensa da liderança do PSC, o líder do partido, André Moura (SE), confirmou que Antônia Lúcia cogitou renunciar à vaga, mas os dois voltarão a conversar novamente sobre isso hoje. Antônia Lúcia pleiteou a presidência da comissão junto com Feliciano. Se ele cair, o nome dela é o mais cotado para assumir a vaga.

Feliciano usou o Twitter para explicar as declarações. Afirmou que usava a palavra "Satanás" como sinônimo para "adversário". "Quando cito Satanás estar em locais de trabalho, falo sobre adversários. Satanás ou Satã (do hebraico) significa adversário/acusador", afirmou o deputado no Twitter. A assessoria do deputado voltou a dizer que foram declarações feitas em uma igreja e não em atividade política. Feliciano contou que conversou com Antônia Lúcia e pediu desculpas que ela teria aceito.

O deputado iria hoje falar com líderes partidários da Câmara sobre sua permanência na presidência da comissão, mas o encontro foi adiado pelo presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que se recupera de cirurgia de hérnia feita na semana passada. A reunião foi marcada para o próximo dia 9.

Deputados contrários a Feliciano vão entrar com recurso na Mesa Diretora da Casa pedindo a anulação da eleição dele. À noite, cerca de 40 militantes do movimento gay fizeram uma vigília com velas em frente ao Congresso. Eles voltaram a pedir que Feliciano renuncie ao cargo de presidente da comissão.