Título: Ato pede punição aos crimes da ditadura
Autor: Herdy, Thiago
Fonte: O Globo, 02/04/2013, País, p. 6

Na Cinelândia, manifestantes relembram os 49 anos do Golpe de 1964

Um ato na Cinelândia, no Centro do Rio, relembrou ontem os 49 anos do Golpe Militar de 1964, com manifestantes de vários movimentos sociais e partidos políticos pedindo que a Comissão Nacional da Verdade abra os arquivos da ditadura e que os crimes dos militares durante o regime sejam punidos. Entre os presentes, Daniel Iliescu, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), a jornalista Hildegard Angel, filha da estilista Zuzu Angel e irmã de Stuart Angel, ambos mortos durante a ditadura, além de representantes do grupo Tortura Nunca Mais.

Em frente ao cinema Odeon, foram espalhadas fotos de desaparecidos políticos, entre eles, Joaquim Câmara Ferreira, Carlos Lamarca, Maurício Grabois, Helenira Rezende e Carlos Marighella.

- A Cinelândia é um espaço emblemático, e este ato é um reencontro da sociedade brasileira com a História. Para nós, não há anistia para crime de tortura. Achamos importante que o Brasil faça esse debate - disse Iliescu, lembrando que a UNE criou sua própria Comissão da Verdade: - Vamos apresentar um dossiê no próximo congresso nacional, em Goiás. O Cláudio Fonteles, que coordenou a comissão nacional, comprometeu-se a abrir os arquivos que façam referência ao movimento estudantil para a UNE. Nós queremos ter uma agenda permanente sobre o tema.

"Vim enterrar os meus mortos"

Durante um discurso emocionado, Hildegard lembrou que o corpo de seu irmão nunca foi encontrado, disse que a Cinelândia representa "um muro das lamentações, mas também um muro da democracia brasileira":

- Soube da manifestação pelas redes sociais e vim enterrar um pouquinho os meus mortos com vocês. Aproveito então para fazer desse manifesto um velório.

Perguntada sobre os trabalhos da Comissão da Verdade, Hildegard disse achar tudo "lento".

- Fui procurada, mas vejo tudo avançando lentamente. Ainda quero saber quem matou minha mãe, e onde está o corpo do Stuart. Foi mesmo jogado ao mar? Um livro conta quem articulou o assassinato da minha mãe, mas não vejo a comissão avançar nessa história, por exemplo.

Diretor do Grupo Tortura Nunca Mais, Sérgio Moura também faz críticas à Comissão da Verdade:

- Acredito que podiam apurar a responsabilidade da cadeia de comando do golpe, mas não é isso que temos visto. Também gostaria que todos os documentos fossem públicos, não queremos novos arquivos.

Durante o evento, um grupo se reuniu para protestar contra o governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) e a favor dos índios da Aldeia Maracanã.