Título: Feliciano recebe diploma de defesa dos direitos humanos
Autor: Talento, Biaggio; Aquino, Carol; Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 06/04/2013, País, p. 8

Deputado é ouvido em processo no Supremo

Foi tumultuada, como as sessões da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, a passagem do deputado e pastor Marcos Feliciano (PSC) por Salvador quinta-feira à noite. Ele esteve na sede da Igreja Batista Avivamento Profético, no bairro da Ribeira, para participar de um culto que integrava o 20° Congresso do Poder Impacto Espírito Santo. Enfrentou manifestações contra e a favor no lado de fora do templo. Para não ser reconhecido pela imprensa e por manifestantes ligados a grupos defensores de minorias, escondeu a cabeça com seu paletó.

Feliciano foi protegido por uma pessoa polêmica da política baiana, o deputado estadual evangélico pastor Isidório de Santana (PSB), conhecido por ter feito um discurso, no plenário da Assembleia Legislativa da Bahia, criticando o exame de toque retal (preventivo ao câncer de próstata) ao qual havia se submetido pouco antes do início da sessão na Casa. Dizendo-se um "ex-gay", Isidório, durante o culto de ontem, chamou os manifestantes contrários a Feliciano de "Zé Povinho", que não seriam abençoados por Deus por aceitarem o "sexo sujo" como qualificou a relação homossexual. E reclamou da perseguição religiosa contra Feliciano.

PSB desautoriza deputado

As declarações de Isidório levaram a direção estadual do seu partido, o PSB, a emitir nota pública repudiando os termos usados e esclarecendo que ele não fala pela sigla. O PSB disse que o pensamento do deputado evangélico difere do partido socialista "que tem entre os seus princípios o combate à homofobia, a defesa da livre orientação afetivo-sexual, igualdade e liberdade, bem como, a legitimação dos Direitos Humanos".

Ainda em Salvador, na última quinta-feira, Feliciano recebeu o título de defensor dos direitos humanos do presidente da Federação Brasileira dos Direitos Humanos, Elizeu Rosa, investigado pelo Ministério Público Federal do Distrito Federal por estelionato.

Elizeu explicou que chefiava outra entidade, que recebeu dinheiro em doação de seus integrantes. Depois, os colegas teriam pedido o ressarcimento do dinheiro, o que lhes foi negado. Então, decidiram cobrar a devolução na Justiça. Segundo Elizeu, esse processo já está arquivado. A informação não foi comprovada na página da Justiça Federal na internet.

Elizeu disse que cerca de 500 pessoas já receberam o mesmo diploma concedido a Feliciano. Na fila para os próximos diplomas está o deputado Jean Willis (PSOL-RJ), um dos maiores opositores de Feliciano. Entre as condições para receber a homenagem, está a aprovação em uma espécie de entrevista feita pelo conselho da federação e não responder a processo judicial. Em seguida, confrontado com o fato de ele mesmo ser alvo de um processo, Elizeu esclareceu que a pessoa não pode ter sido condenada de forma definitiva.

- A pessoa passa por um teste de conhecimento de direitos humanos e de proteção à vida. Geralmente, o diploma é dado para pessoas que se destacam na sociedade na luta pelos direitos humanos. Qualquer cidadão pode receber, basta ter prestado serviço na área social - explicou.

DEPOIMENTO SEM PÚBLICO

Elizeu ressaltou o trabalho de Feliciano:

- No caso do pastor Feliciano, consideramos o trabalho que ele faz junto a drogados, na ressocialização de presos, a entrega de cesta básica e remédios, a difusão da cultura religiosa. Mas o que pesou mesmo foi a aprovação de audiência pública para resolver a questão do chumbo em Santo Amaro da Purificação. As pessoas estão ficando com câncer.

Feliciano prestou depoimento ontem no Supremo Tribunal Federal (STF), em processo ao qual responde por estelionato. O interrogatório ocorreu a portas fechadas, sem a presença do público ou da imprensa. O processo não está sob sigilo, mas o relator, ministro Ricardo Lewandowski, proibiu o público de assistir ao depoimento. Segundo ele, a medida foi tomada porque a sala era muito pequena e, com a presença de jornalistas e outras pessoas, poderia haver tumulto. Além do parlamentar, estavam presentes o seu advogado, o representante do Ministério Público responsável pelas investigações e o juiz.