Título: Exumação tentará identificar corpo de guerrilheiro
Autor: Bruno, Cássio
Fonte: O Globo, 06/04/2013, País, p. 11

Família, que contesta versão oficial de tiroteio, quer saber se restos mortais são mesmo de Alex Xavier Pereira

O Ministério Público Federal (MPF) e a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos da Presidência vão exumar na próxima terça-feira, no Rio, o que seriam os restos mortais do guerrilheiro Alex de Paula Xavier Pereira, morto aos 22 anos pelo DOI-Codi de São Paulo, em 1972. O objetivo é confirmar se a ossada que está no cemitério de Inhaúma, na Zona Norte, pertence ao militante e ex-aluno do Colégio Pedro II. A informação foi publicada ontem na coluna do jornalista Ancelmo Gois no GLOBO.

Segundo o procurador da República Sérgio Suiama, existem 180 investigações em curso no MPF para apurar crimes cometidos durante a ditadura militar (1964-1985). Entre eles, estão incluídos execuções, sequestros e ocultação de cadáveres. Desse total, 120 inquéritos tratam apenas de casos ocorridos no Rio.

- Caso não seja confirmada a identificação de Alex pelo exame de DNA, vamos continuar investigando. Queremos punir os responsáveis por ocultação de cadáver - afirma Suiama.

Nos registros oficiais, a morte de Alex teria ocorrido em 20 de janeiro de 1972 durante tiroteio após um acidente de carro próximo à Avenida República do Líbano, em São Paulo. No veículo, estava outro guerrilheiro, Gelson Reicher, também assassinado. A família de Alex não crê na versão da troca de tiros. O guerrilheiro, ao morrer, militava na Ação Libertadora Nacional (ALN).

Alex foi enterrado como indigente, com o nome de João Maria de Freitas no Cemitério Dom Bosco, no bairro Perus, em São Paulo. O local era utilizado para enterrar vítimas do regime. Oito anos depois, uma ossada foi transferida para Inhaúma como sendo a do militante. A identidade de Alex, porém, nunca foi confirmada.

O pedido de exumação foi feito pela irmã de Alex, Iara Xavier Pereira, de 61 anos, que retornou ao Brasil em 1979 após o exílio. Desde então, ela procura pelo corpo do irmão. A família de Iara militou no PCB e depois na ALN. À época, Iara perdeu outro irmão: Iuri Xavier Pereira, cujos restos mortais foram identificados.

- Quando o Alex morreu, não podíamos ir atrás do corpo porque tínhamos medo de ser presos. Em 1996, identificamos o Iuri. São 33 anos sem resposta sobre o Alex. Todo cidadão tem o direito de sepultar os seus mortos. Estamos correndo atrás das provas. Minha mãe vai fazer 88 anos. Meu pai já morreu. É uma luta sem fim - desabafa Iara.