Título: Região dos Lagos sofre com dengue e critica ajuda estadual
Autor: Alves, Maria Elisa
Fonte: O Globo, 06/04/2013, Rio, p. 19

Em Búzios, até secretária de Saúde reforça atendimento a doentes

Na Rua das Pedras, endereço da badalação em Búzios, o que chamava a atenção, na última quarta-feira, não eram os visitantes hermanos - os argentinos movimentam o turismo local no mês de abril, o primeiro depois da temporada de verão, que costuma atrair um milhão de pessoas ao balneário -, nem as lojas de grife em liquidação. O que destoava da paisagem eram agentes de endemia, que tentavam entrar em lojas em busca de focos do mosquito da dengue, doença que virou epidemia em todas as nove cidades da Baixada Litorânea (que compreende Região dos Lagos mais Casimiro de Abreu e Rio das Ostras).

Em Búzios, desde janeiro, já foram registrados 630 casos da doença, contra 60 no mesmo período do ano passado. O índice de infestação do mosquito chegou a 5,6% dos domicílios, quando o tolerável é até 1%. Os casos chegam a 2.694 em Cabo Frio; em Araruama, já passam de mil. Em apenas cinco cidades da região, já são mais de cinco mil casos. Diante desse cenário, alguns municípios dizem que o apoio do governo do estado tem sido tardio ou insuficiente.

Tomadas pela epidemia, as cidades vêm se esforçando para se livrar do mosquito, mas não tem sido fácil. Em Búzios, onde faltam agentes - o concurso feito às pressas para contratar 30 pessoas só teve 15 aprovados - e sobram doentes, até a secretária de Saúde, Luiza Elisabete Carvalho, teve que voltar a usar o jaleco. Na última quarta-feira, ela reforçou a equipe do Hospital Rodolpho Perissé, quartel-general do atendimento de dengue na cidade.

- Em cada plantão, há três clínicos e dois pediatras. Por causa da epidemia, reforcei as equipes com mais um clínico. Mas, na quarta-feira, dois faltaram. Estavam com dengue - diz Luiza, que reclama ainda da morosidade da Secretaria estadual de Saúde. - Somente esta semana veio um grupo do estado para montar estratégias, ver quanto a gente precisa de veneno para pôr no fumacê. Foi meio tardio.

Segundo ela, a quantidade de inseticida para o fumacê tem sido menor do que a do ano passado.

Em Arraial do Cabo, onde foram registrados 166 casos, o tom também é de queixa. Diretor de Vigilância em Saúde, Cláudio Heleno dos Santos diz que o estado vai mandar apenas um equipamento costal (uma espécie de mochila com a qual um agente pulveriza veneno), quando o ideal seriam três. Ele também diz que a quantidade de veneno diminuiu:

- Pedimos um carro de fumacê há mais de um mês, mas nem responderam.

Para tentar acabar com a epidemia, Arraial do Cabo tem feito mutirões para alertar a população e erradicar focos do mosquito. As visitas dos agentes às casas, que ocorriam a cada 60 dias, vão ser mensais. Em Cabo Frio, há 400 agentes de endemias, seis motos que pulverizam veneno e dois carros fumacê. Apesar do aparato, já são 2.694 casos notificados - em todo o ano passado, foram cerca de três mil. Em Saquarema houve um aumento de 400% no número de casos, em relação a 2012.

- Há cidades em que o número de casos cresceu 5.000%. É muito preocupante - diz o secretário municipal de Saúde, Carlos Eduardo Coelho.

A Secretaria estadual de Saúde informou que a liberação de insumos para combate à dengue e tratamento da doença é feita com base no cenário epidemiológico de cada região, na capacidade instalada dos municípios e na avaliação dos planos de contingência apresentados pelas cidades. Em nota, o órgão diz que Búzios não apresentou pedido oficial para receber inseticida e que o material estará à disposição quando solicitado.