Título: Feliciano diz que só sai junto com mensaleiros
Autor: Braga, Isabel; Anderson, Carter; Sassine, Vinicius
Fonte: O Globo, 10/04/2013, País, p. 7

Segundo presidente da Câmara, deputado do PSC se comprometeu a cessar com declarações polêmicas

Após uma reunião de duas horas, em que foi pressionado por líderes partidários a deixar o cargo, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Marco Feliciano (PSC-SP), não cedeu e decidiu provocar o PT. Disse que poderia concordar em renunciar, se os deputados petistas José Genoino (SP) e João Paulo Cunha (SP), condenados à prisão no julgamento do mensalão, também renunciassem a seus cargos na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Feliciano acabou concordando, no entanto, a voltar a liberar acesso do público às sessões da comissão. Ele havia aprovado requerimento na semana passada restringindo a entrada no colegiado.

- É inviável (proibir a entrada de pessoas na comissão). Por exceção pode acontecer, se houver baderna. Mas não é o caso de se proibir permanentemente - disse o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).

- Vamos pedir para os ativistas manterem o equilíbrio. Se tiver qualquer tipo de perturbação na sessão aberta, eu tiro as pessoas da sessão ou eu mudo de plenário - afirmou Feliciano.

Henrique Alves admitiu que Feliciano só perderá a função se quiser porque, do ponto de vista regimental, não há o que fazer. Resignado com a situação, com sessões da comissão sendo interrompidas por protestos, Alves afirmou que o deputado se comprometeu a parar de dar declarações polêmicas.

- O que hoje restou foi o apelo de alguns líderes para que ele renunciasse e se cessasse essa crise. Mas ele se baseou no regimento e recusou (...) Não posso ser um ditador na Casa, tenho que obedecer ao regimento - resumiu Alves. - O compromisso dele é que vai se comportar respeitosamente, aqui e fora, como um presidente da Comissão de Direitos Humanos. Vamos aguardar que ele cumpra esse compromisso - afirmou o presidente da Câmara, frisando que Feliciano tem que agir como a função que ocupa requer, defendendo "as minorias deste país".

Na reunião, o líder do PDT, André Figueiredo (CE), sugeriu a aprovação de projeto que inclua, entre as penas a serem aplicadas a deputados em caso de quebra de decoro parlamentar, a perda da presidência de comissões permanentes.

O líder do PMDB Eduardo Cunha (RJ) e os líderes do PRB e do PMN saíram em defesa de Feliciano. Já proposta de Feliciano, de deixar a presidência em troca da saída de petistas da CCJ, irritou o líder do PT.

líder do pt diz que feliciano faz provocação

- Isso é provocação e não vou cair nessa provocação. Foi uma reunião de provocação, entendo assim. Fez bem o PSDB que não participou. Eu não deveria ter participado - afirmou o líder do PT, José Guimarães (PT-CE), irmão de Genoino.

Durante a reunião, segundo relatos dos líderes, Feliciano teria se defendido, dizendo que "de bobo só tenho o jeito de ser", e que "esse pessoal que luta contra mim, luta pela liberdade sexual. Eu luto pela liberdade de pensamento". Também teria se explicado sobre a polêmica frase dita em um culto, de que o assassinato de John Lennon foi um castigo por ele ter comparado os Beatles a Jesus. Os líderes relataram que Feliciano disse que essa frase foi dita há 14 anos, quando "era muito jovem".

Após a reunião, Feliciano criticou a ministra Maria do Rosário, da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República. A ministra disse que o deputado incita o "ódio". E disse desconhecer a ministra da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Barros, que assinou moção de repúdio ao parlamentar.

- A ministra Maria do Rosário falar mal de mim é um elogio. Uma pessoa que apoia o aborto falar mal de mim é um elogio - disse Feliciano.

Feliciano negou ter sido impedido por Henrique Alves de viajar à Bolívia, para tratar dos 12 torcedores corintianos mantidos presos em Oruro.

- Eu não fui impedido de ir à Bolívia. Nós aprovamos um requerimento na quarta, e na quinta-feira saiu uma comitiva para a Bolívia - afirmou.

Ele ainda desconversou sobre as declarações do pastor José Wellington Bezerra, presidente da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil. Ele afirmou ao GLOBO, em reportagem publicada ontem, que Feliciano deveria renunciar. Os dois participaram de encontro ontem.