Título: Petrobras admite negociação e LLX sobe 6%
Autor: Ordoñez, Ramona; Villas Bôas, Bruno
Fonte: O Globo, 10/04/2013, Economia, p. 21

Dívida do Grupo EBX dobra para R$ 24 bi em um ano, e valor de mercado das principais empresas cai à metade

Um dia depois de circular no mercado a notícia de que o governo Dilma Rousseff estaria empenhado em viabilizar o investimento da Petrobras no Porto de Açu, em São João da Barra (Norte Fluminense), para ajudar o empresário Eike Batista, a presidente da estatal, Maria das Graças Foster, confirmou que a companhia está avaliando usar uma área do porto para escoar parte da produção do pré-sal da Bacia de Santos. Frisou, porém, que não se trata de socorro e, sim, de negócio. Com as declarações de Graça, as ações da LLX, empresa do grupo de Eike responsável pelo porto, recuperaram ontem uma parcela das perdas recentes na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Os papéis ordinários (ON, com direito a voto) avançaram 6,74%, cotados a R$ 2,06.

- O grupo X é um dos grupos que estamos avaliando tanto para projetos a serem atendidos a médio prazo, como a longo prazo. É um negócio, não se trata definitivamente de ajuda. A Petrobras não pode fazer tudo, ser dona de tudo. A gente quer usar ao máximo aquilo que os outros têm, pagando preço de mercado - afirmou Graça Foster, em evento na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan).

Na máxima do dia, as ações da LLX chegaram a subir 13,47%, cotadas a R$ 2,19, mas perderam força no fim do pregão, quando investidores venderam os papéis para embolsar lucros. No ano, porém, as ações da empresa de logística ainda tombam 14,17%. Pedro Galdi, analista da SLW Corretora, pondera que a notícia e a valorização não mudam a tendência das ações das empresas "X", que devem seguir muito instáveis com risco de perdas pela frente.

- É ainda preciso ver que parceria é essa com a Petrobras, como isso seria feito. Ninguém quer que as empresas quebrem, nem o governo, nem os bancos, nem o mercado. O que acontece com esses papéis é claramente desconfiança, e não é só uma questão financeira. É preciso um ciclo de notícias positivas para recuperá-los - avalia Galdi.

O empenho do governo em dar um empurrão aos negócios de Eike deve-se ao fato de o Porto do Açu, considerado estratégico, já ter perdido grandes investimentos que, acreditava-se, estavam assegurados. Entre as empresas que mudaram de ideia e deixaram de se instalar no porto estão a siderúrgica chinesa Wisco e a montadora japonesa Nissan. A siderúrgica argentina Ternium também pode abandonar o Açu, segundo analistas de mercado.

- Para o governo, o grupo de Eike são três setores: petróleo, mineração e logística. Nos dois primeiros, se ele tiver dificuldades, o problema é dele, como qualquer outro empresário que atue no setor privado. Já a área de logística é estratégica - disse uma fonte de governo.

Em nota, o grupo EBX disse que o conglomerado e a Petrobras "são dois grupos brasileiros que contribuem para o desenvolvimento do país, com grande potencial de parceria", mas que não há nada concreto ainda.

Com a desconfiança do mercado, o valor das empresas "X" caiu à metade entre 2011 e 2012, enquanto a dívida relativa a financiamentos (o que o grupo ainda tem que pagar a seus credores) dobrou no período. Em 31 de dezembro de 2011, as cinco principais empresas do grupo (OGX, LLX, MMX, MPX e OSX) valiam R$ 59,9 bilhões. Um ano depois, estavam avaliadas em R$ 28,1 bilhões.

O valor total da dívida dessas cinco empresas somava R$ 12,6 bilhões em 31 de dezembro de 2011 e havia saltado para R$ 24,1 bilhões no último dia do ano passado, segundo dados dos balanços das companhias. Entre os credores estão BNDES, Bradesco, Itaú BBA e Santander. Uma parcela de mais de R$ 1 bilhão da dívida vence até julho.

O tombo das ações da OGX, principal empresa do grupo, e a explosão do seu endividamento respondem em grande parte por esses números. A empresa de petróleo viu seu valor de mercado desabar de R$ 44 bilhões em 2011 para R$ 14,2 bilhões em 2012. Ao mesmo tempo, sua dívida com os bancos subiu de R$ 4,7 bilhões para R$ 8 bilhões em apenas 12 meses.

- A única saída para o Eike hoje parece ser vender ativos para entrar dinheiro em caixa. E talvez negociar barris com a Petrobras fosse algo ótimo para a empresa - avalia Fernando Goes, da Clear Corretora.

Em nota, o grupo EBX disse que "o prazo médio de vencimento da dívida do Grupo é de cinco a seis anos e a liquidez de caixa suficiente para fazer frente a esses compromissos".

Moody"s rebaixa nota da OGX

Na Bolsa, as declarações de Graça acabaram levando à valorização das ações de outras empresas do grupo "X" durante o pregão, mas, no fim do dia, elas fecharam em queda. Foi assim com a OGX (braço de petróleo do grupo), que chegou a subir 7,27%, mas terminou a sessão em baixa de 1,79%, a R$ 1,65, mínima histórica. O papel perdeu fôlego após a agência Moody"s ter rebaixado a nota de classificação de risco da empresa (rating) de "B1" para "B2", deixando a companhia em revisão para possível novo rebaixamento. A agência citou "contínuas taxas baixas de fluxo de produção" como o motivo da revisão. As ações da MMX (mineração) recuaram 2,43%, a R$ 2,01; da OSX (construção naval) perderam 4,14%, a R$ 3,47; e da MPX (energia) tiveram queda de 0,21%, a R$ 9,38. De outro lado, a Bovespa fechou em alta de 1,49%, aos 55.912 pontos, na maior alta em um mês com a desaceleração da inflação na China e dados positivos de balanços de empresas nos Estados Unidos.

DEM: PERDA DO BNDES CHEGA A R$ 40O MILHÕES

Levantamento feito pela assessoria do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), ao qual o GLOBO teve acesso, mostra que as perdas acumulada do BNDES com ações de quatro empresas do grupo de Eike Batista superam R$ 400 milhões desde o fim de 2011. O prejuízo, no entanto, é apenas contábil, pois a instituição não vendeu os papéis. A participação do banco em algumas companhias do grupo chega a superar os 10%.

— O governo optou por escolher algumas grandes empresas como parceiras em setores estratégicos. O grupo EBX foi um desses parceiros. Agora, o governo sabe que um problema lá terá reflexos importantes na economia de forma geral — afirmou Maia, lembrando que as empresas "X" também têm como sócios fundos de pensão patrocinados por estatais, o que estreita ainda mais a ligação entre o governo e Eike.

As maiores fatias do BNDES estão na MPX (que atua no setor de energia) e na CCX (que atua no segmento de mineração de carvão). No primeiro caso, o banco é dono de 10,35% do capital e, no segundo, de 11,72%. Considerando esses percentuais, o banco acumula perdas de R$ 271,7 milhões do fim de 2011 até agora.

No caso da MMX (da área de mineração) e da OGX (de exploração e produção de petróleo e gás natural), a participação do BNDES é mais modesta: de 1,03% e 0,26%, respectivamente. Assim, entre dezembro de 2011 e hoje, as perdas acumulariam R$ 140,7 milhões.

Ainda segundo o levantamento do DEM, o valor de mercado das participações do BNDES, considerando que os percentuais não variaram no período, chegou a cair 87%. Foi o caso da OGX. Na MMX, a queda foi de 70%; na CCX, de 58,5%; e na MPX, 24%. Procurado, o banco disse que não comentaria o levantamento, mas esclareceu que não tem ações da OGX em carteira.