Título: Maduro anuncia salário mínimo maior na semana das eleições
Autor:
Fonte: O Globo, 10/04/2013, Mundo, p. 28
No Brasil, chanceler Jaua dá como certa vitória do presidente interino
Caracas e brasília A cinco dias das eleições na Venezuela, o presidente em exercício, Nicolás Maduro, anunciou ontem um aumento escalonado de até 45% do salário mínimo no país. O sucessor de Hugo Chávez admitiu que temia ser acusado de se beneficiar da medida como candidato e por isso, pretendia anunciá-la só depois da votação. Mas não esclareceu o que o fez mudar de ideia.
- Não queria meter esse tema aqui, porque iriam falar que estou fazendo isso por causa da campanha - afirmou, sem mais detalhes, em um ato em frente ao Palácio de Miraflores.
É a primeira vez, em mais de cem dias interinamente no poder - desde a última viagem de Chávez a Cuba, ainda em tratamento do câncer -, que Maduro anuncia uma medida do tipo. Ela faz parte, por sua vez, da plataforma de governo do rival Henrique Capriles. O líder da oposição já havia prometido aos eleitores, dias antes, um aumento de 40% no salário mínimo caso chegue à Presidência.
O aumento proposto por Maduro acontecerá em etapas: 20% em maio, 10% adicionais em setembro e outros 5% a 10% em novembro deste ano, de acordo com a inflação. O salário passaria do valor atual, equivalente a R$ 646, para até R$ 935.
- O comandante Chávez me deixou para proteger a classe operária, os mais pobres, os que vivem nas favelas - alegou Maduro, que prometeu "miséria e pobreza zero" até 2019, quando terminará o próximo mandato presidencial.
dias toffoli será observador
O chanceler venezuelano, Elías Jaua, se reuniu ontem em Brasília com o colega brasileiro Antonio Patriota e deu a vitória do presidente interino como certa.
- Essa missão de integração, que teve o comandante presidente Hugo Chávez, nós vamos continuar e aprofundar com o governo do companheiro presidente Nicolás Maduro. Estamos seguros de que continuará (o governo Maduro), de que o povo venezuelano ratificará o exercício do governo - afirmou o ministro venezuelano.
Em declaração à imprensa ao lado de Patriota, Jaua defendeu o respeito ao resultado das eleições.
- Valorizamos altamente sua preocupação (da presidente Dilma Rousseff) por estar informada sobre o processo na Venezuela, e estamos seguros, com o favor de Deus, com o compromisso que temos com o comandante Hugo Chávez, de que o processo político na Venezuela continuará transcorrendo em paz, com democracia, com um marco de plenas liberdades para todos os setores, e que respeitem os resultados - disse Jaua.
Os dois ministros defenderam um aprofundamento da relação bilateral. Segundo Patriota, o fluxo comercial entre Brasil e Venezuela já ultrapassa os US$ 6 bilhões anuais.
- Atribuímos importância ao relacionamento estratégico com a Venezuela, agora um parceiro no Mercosul, e gostaríamos de continuar esse relacionamento comercial, e a cooperação econômica.
O Brasil enviará o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) José Antonio Dias Toffoli para fazer parte da comissão da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) que vai acompanhar as eleições venezuelanas.
A presidente do Conselho Eleitoral (CNE) da Venezuela, Tibisay Lucena, informou que mais de 46 mil urnas já foram distribuídas pelo país.
Em desvantagem na corrida eleitoral, segundo as pesquisas, a oposição adotou um tom mais agressivo nas últimas semanas. A direção de campanha de Capriles denunciou o uso do aparato estatal a favor da candidatura de Maduro. E já acusou, também, o partido oficialista PSUV de possuir uma senha de acesso às urnas eletrônicas.
- Tolerei muitos abusos nas últimas eleições presidenciais. Defenderei todos os votos da Venezuela. Se acham que somos idiotas, estão enganados - afirmou Capriles, em um ato no estado de Sucre, onde assinou um documento no qual se comprometeu a aceitar o resultado.
A troca de ofensas entre os candidatos deve aumentar até amanhã, data estabelecida pelo CNE para o fim da campanha. No mais recente capítulo da corrida eleitoral, o governo diz ter provas de uma suposta conspiração de militares salvadorenhos para matar Maduro. O governo de El Salvador prometeu investigar.