Título: Exigências entram no cardápio
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 17/10/2009, Política, p. 10

PP prepara lista de demandas para apresentar a Dilma em jantar. Partido quer contrapartidas para apoiar candidatura da ministra

Dornelles, Fortes e Negromonte: PT terá que conquistar os progressistas

Virou rotina. Na hora das negociações eleitorais, nenhum partido quer ser só mais um. Todos apostam no seu cacife para tirar uma lasquinha extra. E às vésperas do jantar marcado com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, o PP não é diferente. Os caciques progressistas estão sentados ao redor da mesa, preparando a lista de exigências para apoiar o PT na corrida pelo Palácio do Planalto no ano que vem.

Sabendo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer isolar o presidenciável do PSB, o deputado Ciro Gomes (CE), e fazer uma eleição plebiscitária ¿pão, pão, queijo, queijo¿, como ele mesmo disse, os progressistas esperam que a cúpula petista trabalhe arduamente para aglutinar ao redor de sua ministra o maior número de partidos possível. O que significa isso? Uma situação de fragilidade que o PP pretende capitalizar. E o partido gostaria que o pontapé inicial fosse um esforço para apaziguar os ânimos das disputas locais em São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina, além de evitar que o acordo já firmado na Bahia faça água, contribuindo para o partido alcançar suas metas em 2010.

O presidente do PP, senador Francisco Dornelles (RJ), o líder da bancada na Câmara, Mário Negromonte (BA), e o ministro das Cidades, Márcio Fortes, são entusiastas da aliança com a ministra Dilma e trabalham internamente para unificar a legenda e levá-la para 2010 afinada com o PT nacional. Mas esperam, em troca, reconhecimento da importância do PP como cabo eleitoral, sendo o terceiro maior em número de prefeituras, o segundo em vereadores e filiados.

¿A grande maioria é favor da Dilma. Eu diria que 23 dos 27 estados fechariam com a ministra. Mas não é um processo fechado, é um trabalho de conquista que envolve o presidente Lula¿, disse Negromonte. ¿Esse trabalho de conquista não é só sorriso e aperto de mão, é também feito por propostas. Torna-se necessária mais ação do governo e do PT para nos conquistar. É como se fôssemos uma noiva. O noivo tem que conquistar. Temos um capital político que não é desprezível¿, acrescentou Negromonte.

E, ao apoiar a ministra Dilma, o PP espera aumentar ainda mais esse cacife. As metas para 2010, segundo Negromonte, são eleger entre 45 e 55 deputados federais, seis senadores e três governadores. De acordo com o líder da bancada, os estados mais favoráveis são Alagoas, Rondônia e Amapá. Essa matemática, no entanto, não é simples. Em alguns estados, PP e PT são inimigos históricos. Em outros, o ranço entre as legendas foi superado.

¿O PP e todos os partidos da base vão ficar muito divididos nos estados¿, disse o deputado Ciro Nogueira (PI). Para ele, um quesito importante na definição dos rumos do partido é a escolha do candidato do PSDB ao Palácio do Planalto. Se for o governador de São Paulo, José Serra, o acordo com Dilma sai mais fácil. Caso a opção tucana seja pelo governador de Minas Gerais, Aécio Neves, o PP pode se lançar na corrida dos peesedebistas.

O jantar com Dilma está marcado para o dia 27 e será realizado na residência de Mário Negromonte. ¿Queremos ouvir o que está na cabeça dela sobre economia, pré-sal, agronegócio e meio ambiente¿, explicou o líder.

Eu diria que 23 dos 27 estados fechariam com a ministra (Dilma Rousseff). Mas não é um processo fechado, é um trabalho de conquista que envolve o presidente Lula¿

Mário Negromonte, deputado do PP-BA

O mapa progressista

O PP será cortejado pela ministra Dilma Rousseff em jantar marcado para 27 de outubro. A lista do partido para apoiá-la passa por tornar amistosa a relação em alguns estados. Veja abaixo algumas das dificuldades:

São Paulo O PP analisa a possibilidade de ter candidato próprio ao governo estadual. O deputado Paulo Maluf, ícone do partido em São Paulo, é favorável à aliança com Dilma e até aceitaria fechar com o PT no estado caso o candidato fosse o ex-ministro Antonio Palocci.

Minas Gerais O PP avisou que fechará com o candidato do governador Aécio Neves (PSDB) ao estado, que deve ser o vice Antonio Anastasia (PSDB), e será adversário do PT e do PMDB. O partido espera que a disputa não seja fratricida e cause problemas na campanha nacional.

Santa Catarina Os dois partidos ¿ PP e PT ¿ deverão ter candidatos próprios, mas lá há um facilitador: o DEM, o adversário em comum. Petistas e progressistas já fizeram uma aliança no segundo turno da eleição estadual.

Alagoas O PP tem como pré-candidato o prefeito de Maceió, Cícero Almeida, o mais votado na eleição municipal de 2008, levando-se em conta o percentual alcançado por ele.

Bahia O partido está fechado com a proposta de reeleição do governador Jaques Wagner (PT), mas reclama que secretários estaduais petistas tentam minar o acordo.

Rondônia O governador Ivo Cassol é neófito no PP e presidente do diretório estadual da legenda. Ele deve sair candidato ao Senado. O PT é adversário dos progressistas e nem cogita aliança.