Título: Teste de maturidade
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 17/10/2009, Opinião, p. 26

O biênio 2010-2011 promete ser decisivo para a prioridade entre as prioridades do Brasil na frente diplomática ¿ a conquista de uma cadeira permanente no Conselho de Segurança (CS), principal instância decisória da Organização das Nações Unidas. Pela décima vez nas seis décadas de vida da ONU, o país ocupará uma das 10 vagas rotativas do CS. Terá voz e voto nas questões mais críticas e delicadas do cenário mundial. E, como nunca antes na história, cada escolha ou pronunciamento, e até mesmo as eventuais abstenções, estará sob atenta observação.

Tornou-se moeda corrente, nas altas rodas da política internacional, nos círculos diplomáticos e intelectuais, a noção de que o Brasil será inevitavelmente integrado aos centros globais de poder. Já se senta à mesa com Estados Unidos, União Europeia e Índia para coordenar as negociações da Rodada de Doha sobre o comércio mundial. É ouvido com respeito nas discussões sobre mudanças climáticas. Participa do G-20, que na prática transformou o G-8 em uma espécie de clube de debates.

O reconhecimento desse novo status de potência emergente será pleno justamente com a admissão no Conselho de Segurança, no marco de uma reforma mais ampla das Nações Unidas. E há razões para acreditar que esse momento nunca esteve tão próximo.

Honrarias à parte, o indício mais seguro de que deixamos de ser um país adolescente está nas cobranças insistentes para que o Brasil assuma maiores responsabilidades. Que se apreste e se apresente com maior frequência para missões de paz ou estabilização, como a que comanda atualmente no Haiti. Que se abstenha menos em questões delicadas ¿ como, por exemplo, a das violações dos direitos humanos em Cuba, cujo regime o governo Lula trata como amigo. Em repetidas ocasiões, emissários europeus, norte-americanos e de outros países e regiões têm dado o recado: quem se senta à mesa principal tem de mostrar nervos para tomar posições claras, por vezes firmes, sem receio de desagradar a algum dos lados.

No futebol, referência constante nos discursos do presidente Lula, as crianças entram por vezes no jogo dos adultos como ¿café com leite¿, jogando para os dois times: brincam, mas não contam na prática. Agora, o que se espera do Brasil é justamente que vista a camisa e entre em campo ¿ sem medo de caras feias nem botinadas, sem timidez para se afirmar, ainda que à custa de eventuais inimizades.

Não faltarão temas para testar a maturidade da diplomacia brasileira, como por exemplo o impasse nuclear com o Irã. Mais do que nunca, o tom que o país adotar sobre questões dessa envergadura fará a diferença na hora de selar o diploma de potência confiável. E um detalhe, quase despercebido, pesará sobremaneira no futuro julgamento da comunidade internacional: este biênio como membro do Conselho de Segurança entrará pelo mandato do presidente a ser eleito em 2010. A troca de comando será um desafio e uma oportunidade para o país demonstrar que assimilou os novos compromissos como política de Estado, e não bandeira de um governo.