Título: Chefe do Segundo tempo joga a toalha
Autor: Brito, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 24/10/2009, Política, p. 6

Secretário Nacional pede demissão menos de uma semana depois de o Correio revelar desvios de entidade integrante do programa

Responsável pelo Programa Segundo Tempo, o secretário Nacional de Esporte Educacional, Julio Filgueira, pediu demissão do cargo na última quinta-feira. A saída de Julio ocorre menos de uma semana depois de o Correio ter revelado uma acusação oficial de desvio de recursos públicos de uma entidade participante do programa. A ONG era comandada por um ex-candidato do PCdoB(1), partido que desde 2003 comanda a pasta. O ministro do Esporte, Orlando Silva, já aceitou a demissão do auxiliar, que chegou ao cargo em maio de 2007. Considerado o carro-chefe do ministério, o Segundo Tempo tem como objetivo retirar jovens de situações de risco por meio da prática de esportes fora do horário escolar.

No último sábado, o Correio mostrou que o Ministério Público Federal (MPF) em Brasília cobra R$ 3,1 milhões de uma entidade de Sobradinho por graves irregularidades num dos principais convênios do programa. A ONG, a Federação Brasiliense de Kung Fu (Febrak), é presidida pelo policial militar João Dias Ferreira, candidato a deputado distrital derrotado em 2006 pelo PCdoB. A chapa eleitoral fora encabeçada por Agnelo Queiroz, que deixou o cargo de ministro do Esporte para se candidatar ao Senado (hoje ele está no PT).

A partir de achados de vistoria de técnicos do Ministério do Esporte, constatou-se que a Febrak descumpriu uma série de exigências do convênio, firmado em 2005, no valor de R$ 2,04 milhões. Entre as irregularidades, de acordo com a acusação do MPF, estão núcleos não criados, simulação de compra de uniformes e de materiais esportivos e falta de distribuição de lanches. Em vez de beneficiar 10 mil jovens, segundo a inspeção, apenas 3 mil estudantes foram assistidos. Diferentemente do previsto pelo programa, os jovens que praticavam esportes o faziam durante o horário escolar.

Gota d¿água Funcionários do ministério contaram à reportagem que a ação do MPF foi a gota d¿água para a saída do secretário. Em outubro de 2007, com seis meses no cargo, Julio envolveu-se numa polêmica. Segundo revelou o Correio na ocasião, o ministério criou uma estrutura terceirizada, no Centro Empresarial Norte, para analisar processos do Segundo Tempo. A inspeção do programa no puxadinho era feita por pessoas não autorizadas. Julio admitiu que a estrutura não era reconhecida formalmente.

Na carta que enviou aos funcionários do ministério, Julio não fez menção à denúncia do MPF. Exaltou sua trajetória pública de atuação na área do esporte, agradeceu ao ministro e destacou a importância do Segundo Tempo, que deve ser integrado, segundo ele, ao Ministério da Educação. ¿Deixo o ministério e a SNEED (a secretaria dele) para dedicar-me a minha atividade profissional na área de marketing e propaganda, esperando seguir contribuindo nessa nova fase com a construção de um Brasil ainda melhor¿, concluiu. A reportagem não conseguiu localizá-lo.

Embora a exoneração dele ainda não tenha sido publicada no Diário Oficial da União, o substituto já está escolhido: Fábio Roberto Hansen, atual chefe de gabinete de Julio e secretário substituto de Esporte Educacional.

1 - Briga de comunistas Há uma briga entre comunistas por espaço em São Paulo. O ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo (SP), o delegado Protógenes Queiroz e o ministro do Esporte, Orlando Silva, devem concorrer a uma das 70 cadeiras da Câmara no estado. Segundo integrantes do partido, Orlando pode abrir mão da disputa para ficar no ministério, de olho num eventual governo da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). O calendário esportivo até 2014 é forte e inclui o Campeonato Mundial das Forças Armadas e a Copa do Mundo de futebol.

O número 10 mil Número de jovens que deveriam ser beneficiados pela ONG. Fiscalização só achou 3 mil