Título: MST não fecha com a petista
Autor: Campbell, Ullisses
Fonte: Correio Braziliense, 25/10/2009, Política, p. 9

Coordenador nacional do movimento, João Paulo Rodrigues diz que a entidade não se sente representada na disputa presidencial pela ministra da Casa Civil

São Paulo - O coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Paulo Rodrigues, disse ontem que a entidade não se sente representada pelos pré-candidatos à Presidência da República, incluindo a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), e a senadora Marina Silva (PV-AC). Num encontro nacional do PT com movimentos sociais, ocorrido ontem em São Paulo, João Paulo teceu críticas duras ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva. ¿A reforma agrária do PT é muito lenta e deixa a desejar nos principais pontos: crédito, terra e política da agroindústria¿, ressaltou.

João Paulo disse que o MST não foi procurado por nenhum pré-candidato para debater projetos voltados para a reforma agrária. ¿Não conhecemos o projeto da Dilma. Infelizmente, nenhum dos candidatos mostrou programas identificados com o MST. Se realmente a Dilma for uma continuidade do projeto Lula, ela não terá o nosso apoio, assim como os demais candidatos.¿ O chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, admitiu que a relação do governo com o MST é ¿naturalmente tensa¿ por causa das limitações orçamentárias do Executivo e da pressa que o movimento tem. ¿Mantemos um diálogo permanente com o MST. Ora esse diálogo é profundamente divergente, ora convergente¿, disse Carvalho.

O representante de Lula no encontro não quis rebater as críticas que João Paulo fez publicamente sobre a reforma agrária. Os ataques foram duros. ¿Acho que o governo fez tudo o que estava ao seu alcance, mas reconheço que não conseguimos dar conta de toda a problemática existente no campo¿, afirmou Carvalho.

A relação do MST com o governo federal ficou ainda mais estremecida depois que Lula classificou uma ação do movimento, que derrubou mais de 7 mil pés de laranjas numa invasão à fazenda Santo Henrique, de vandalismo. João Paulo disse que os laços que unem o movimento ao PT estão enfraquecidos, mas não por causa do episódio do laranjal. Segundo ele, o maior problema do governo Lula é a reforma agrária, que até hoje não teria decolado.

Dissidência No Pontal do Paranapanema, região do oeste paulista, os sem-terra liderados por José Rainha Júnior decidiram apoiar a pré-candidata indicada por Lula. ¿Somos Dilma até debaixo d¿água¿, ressaltou Rainha. Ele foi expulso do MST, segundo a direção nacional do movimento. Mas, como a entidade não tem representação jurídica, o desligamento não pode ser oficializado e ele continua falando em nome do movimento. ¿Continuo no MST e comando mais de 6 mil colonos.¿ Rainha vai pedir uma audiência com o PT para ajudar a difundir o programa de Dilma para 2010. Um dos focos da campanha será o acampamento Deputado Adão Pretto, no município de Araçatuba, considerado o maior do país. ¿Estamos sempre com Lula. O candidato que ele apontar a gente apoia¿, afirmou Rainha.