Título: Falta duplicação, sobra perigo
Autor: Moraes, Diego
Fonte: Correio Braziliense, 29/10/2009, Brasil, p. 15

Pesquisa aponta que 88,9% das estradas do país estão entre as mais suscetíveis a acidentes

Trecho de rodovia na Bahia: crateras na pista e falta de acostamento

Embora sejam apontadas como uma solução eficaz na redução de acidentes em regiões com grande circulação de veículos, as rodovias duplicadas ainda são raridade no Brasil. Apenas 10,8% das estradas do país têm mais de uma pista em cada sentido. Enquanto isso, 88,9% são formadas por pistas simples, ou a famosa mão dupla, em que caminhões, carros e motos precisam dividir a mesma faixa em cada lado ¿ o que eleva o risco de colisão frontal na hora da ultrapassagem.

A constatação está na Pesquisa Rodoviária 2009, divulgada ontem pela Confederação Nacional do Transporte (CNT). ¿Se levar em conta o fluxo, pelo menos 30% da malha rodoviária já deveria estar duplicada¿, afirma o presidente da entidade, Clésio Andrade. De acordo com o levantamento, 7,7% das rodovias percorridas estão duplicadas e separadas por canteiros centrais, 2,4% são isoladas por barreiras, como de concreto, por exemplo, e 0,7% tem apenas uma faixa pintada no chão como divisória. A maior parte delas está no Sul e no Sudeste. O restante, 0,2%, são pistas de mão única.

¿A mão dupla induz o motorista ao erro. Entre uma pista de mão dupla em perfeito estado e uma rodovia duplicada cheia de buracos, com certeza a segunda opção é a mais segura¿, afirma o doutor em engenharia de transporte Fernando MacDowell. Ex-diretor do Departamento de Estradas e Rodagens (DER) do Rio de Janeiro, ele exemplifica que a duplicação da Via Lagos, que liga a capital fluminense à Região dos Lagos, levou a uma redução de 70% nos acidentes e fez cair pela metade as mortes por ano.

A pesquisa da CNT também atesta o que os motoristas já estão cansados de saber: 69% da malha rodoviária do país, entre estradas federais e estaduais, estão em situação regular, ruim ou péssima ¿ ou seja, não têm condições ideais para o tráfego. Apesar disso, houve melhora em relação ao levantamento anterior, de 2007, quando o índice ficou em 73,9%.

Ranking Os técnicos percorreram 89,4 mil quilômetros ¿ 60,7 mil em estradas federais e 28,7 mil em estaduais. O ranking feito pela CNT apresenta um contraste no Sudeste. O pior trecho está em Minas Gerais, entre o município de Leopoldina e a BR-262. E o melhor trajeto fica em São Paulo, entre a capital do estado e Taubaté, na SP-070. Enquanto o primeiro é administrado pelo governo federal, o segundo está nas mãos de concessionárias. A pesquisa, entretanto, mostra ligeira queda na qualidade dos trechos onde há cobrança de pedágio na comparação com o levantamento de 2007 ¿ o inverso do que ocorreu com as estradas administradas pelo poder público. A explicação foi o aumento no número de trechos cedidos a concessionárias nesse período.

Roraima é o pior estado quando o assunto é rodovias: tem 43,6% da malha em péssimas condições. Na outra ponta, São Paulo desponta com a melhor infraestrutura. Entre as regiões, o Norte é a pior, com 93,7% das estradas sem condições ideais de uso.

Apesar dos números, o Ministério dos Transportes avalia a pesquisa como ¿positiva¿, porque 45% das estradas recebeu o carimbo de ¿regular¿. Para a CNT, seriam necessários R$ 32 bilhões para consertar toda a malha rodoviária do país.