Título: IPI verde deve contagiar setor produtivo
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Fonte: Correio Braziliense, 01/11/2009, Opinião, p. 20

É bem-vindo o anúncio de renovar, até 31 de janeiro de 2010, a redução do IPI que incide sobre eletrodomésticos da linha branca. A iniciativa veio acompanhada de medida com viés ambiental. Privilegia os produtos com baixo consumo de energia. É o primeiro aceno tributário do governo petista com expressa demonstração de preocupação com o meio ambiente. Em princípio, todas as linhas de produção industrial têm margem para reduzir o consumo de eletricidade e de recursos naturais. Mas poucos o fazem.

O mundo está à borda de nova revolução industrial. Trata-se do inédito salto de incorporar os elementos do equilíbrio ecológico ao cálculo econômico do processo produtivo. O Brasil ainda engatinha na caminhada que deve absorver as atenções de lideranças dos cinco continentes. O papel do Estado, no caso, tem peso significativo. A disposição de dar passos decisivos deve estar presente nas políticas públicas.

Dois movimentos simultâneos se impõem. Um: de desestímulo. Significa retirar incentivo de quem produz com alto custo ambiental. O outro: de estímulo. Ele se traduz na determinação de induzir processo produtivo mais limpo. Não se trata de suspiros esporádicos, mas de mudança estrutural com visão de futuro ¿ definir aonde chegar a longo prazo e estabelecer as bases para a caminhada desde já.

Não só a indústria deve ser privilegiada. Agricultura e pecuária merecem a mesma atenção. Linhas de crédito de bancos oficiais ¿ Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social ¿ funcionam como ferramentas eficazes na imposição das novas políticas. É essencial, vale frisar, que os ventos da virada soprem na totalidade das estruturas governamentais. Como vasos comunicantes, uns devem contagiar os outros. Nenhum pode ficar de fora.

Há, claro, o risco de que a bandeira do IPI verde e de outras medidas ambientalmente corretas sejam hasteadas com fim eleitoral ou de busca de aplauso internacional. O pleito de 2010 e a cúpula de Copenhague no próximo mês podem estimular anúncios genéricos, com bela embalagem, mas vazios de conteúdo. Cabe à sociedade exigir a discriminação das medidas nas políticas industrial, agrícola e creditícia.